Artigo: Um candidato a vice-prefeito pra chamar de seu!

Por Antônio Neves (Professor e historiador)

O cargo de vice-prefeito tem uma prerrogativa constitucional estratégica na linha sucessória ou substitutiva do Poder Executivo municipal, é o segundo na hierarquia governamental, mas seu desempenho é medíocre e, quase sempre, secundarizado pelo centralismo administrativo de prefeito personalista. Muitas vezes, um Chefe de Gabinete tem mais poder de decisão na gestão que o próprio vice-prefeito, que logo vai para a geladeira do ostracismo.

Em períodos pré-eleitorais a discussão sobre quem será o candidato a vice-prefeito de tal candidato é sempre o tema que alimenta as especulações da imprensa, dos grupos políticos partidários e dos eleitores. Pela forma como as discussões são feitas, o cargo de vice-prefeito assume uma dimensão bem maior do que aquela que, de praxe, o futuro eleito vai assumir de fato. Geralmente, seis meses depois de empossada a chapa vencedora, prefeito e vice que juravam amor e fidelidade eterna à quatro mãos nos palanques eleitorais, pedem o divórcio, confirmando assim, um constrangedor estelionato eleitoral.

Em Caicó, terrinha ensolarada onde política e eleições municipais sempre foram práticas de arranjos convencionais do jogo político das tradicionais forças em disputa, a escolha do candidato a vice-prefeito nunca exigiu maiores critérios, não se leva em conta o currículo nem a experiência ético-administrativa do postulante ao cargo e nunca se define, com a devida seriedade, qual o papel que o futuro ocupante da segunda cadeira mais importante do governo terá junto a gestão municipal. Meses depois de empossado, o vice-prefeito vira pinguim de geladeira, ou seja, passa a ser mera peça decorativa onde ninguém lhe dará mais a devida importância.

Durante o período pré-eleitoral, muitas conversas, acordos e outras escaramuças são bastante comuns ante a disputa para ver quem será vice de quem. O passe para ocupar a vaga desse cargo chega a custar, em alguns casos, cifras, promessas e outras vantagens, as vezes prometidas e nunca cumpridas; barganha-se as garantias para vencer as eleições, o que vem depois de eleitos e empossados, é um induzido distanciamento entre aqueles que deveriam se aproximar mais ainda.

Na maioria dos cenários, as alianças que unem candidatos a prefeito e vice são frágeis, sem afinidade ideológica, sem defesa ou colaboração planejada de um projeto de governo consistente, nenhum alinhamento administrativo, mas o nome de quem será o vice passa a ser a principal peça a ser negociada para garantir uma chapa competitiva eleitoralmente, porém, politicamente e administrativamente sem sustentabilidade, haja vista que as contradições e divergências só vão surgir na hora de repartir o bolo político do governo e, para isso, o vice que antes era o fiel da balança para ganhar as eleições, passa a ser considerado o indesejado para governar… É hora de pedir o divórcio!

 O histórico de frustrações, birras, rompimentos e “traições” de vice-prefeitos eleitos que protagonizaram grandes embates políticos em Caicó é de encher conversas de grupos de WhatsApp. Nos últimos 30 anos, não houve um que não tenha sido preterido pelo prefeito pouco tempo depois de eleito, mesmo quando se tratava de alguém bem intencionado e com capacidade técnica e administrativa para colaborar com a gestão, mas o jogo jogado e mesquinho da relação político-administrativa que passa a vigorar não permite esse tipo de parceria, e as boas intenções, antes prometidas em forma de grande aliança no período eleitoral, vira jogo de disputas, arengas e intrigas. Era uma vez um governo à quatro mãos!

Mas a pergunta em questão tem atrativos que não cessam por qualquer provocação: Quem quer ser candidato a vice-prefeito nas eleições municipais? Não tenha dúvidas de que, muitos, mesmo sem qualificação nenhuma, comportamento ético ou dignidade para a escolha, sonham com esta vaga, basta que seu padrinho político lhe ponha a mão na cabeça e afague suas vaidades.

Depois, decide-se com quem e como governar!

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