Antônio Silvino: “Um Bandido Cavaleiro” ou “Um Bandido Cruel”? – por Anchieta Guerra

“Não tenho medo do inferno, pois se para lá for, disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer”

Na história do Cangaço Nordestino figuraram diversos Cangaceiros que se tornaram famosos por terem praticados, por onde passaram ações marcantes, violentas e cruéis. Assim, para cada Cangaceiro famoso, associou-se um estigma, que tanto poderia ser de um mito-herói como a de um mito-bandido. Indiscutivelmente, em um maior número, o mito de mito-bandido! Então, para que possamos discernir uma ou outra trajetória do Cangaceiro Nordestino, é necessário que citemos que bem antes de Lampião, surgiram outros Cangaceiros que se destacaram pelas formas de como agiam, atraindo assim, admiradores e inimigos. Dentre eles, podemos enumerar alguns, como: O “Cabeleira” que, segundo o escritor cearense Franklin Távora, foi o primeiro Cangaceiro do Nordeste, por volta de 1751. Em seguida, podemos citar outros que ficaram famosos, como: “Jesuíno Brilhante” que, conforme alguns historiadores, atuou por volta de 1870; Lucas Evangelista, Adolfo Meia-Noite, Preto, Moita Brava, Silvino Aires, Francisco Batista de Morais, Antônio Silvino e Lampião (o mais famoso deles). Além, é claro, dos seus discípulos ou subordinados que faziam parte do bando, como é o caso de: Corisco, Folha Seca, Bem-te-vi, Maria Bonita, Dadá e outros.

Quero destacar, contudo, nesse texto, a figura “lendária” de “Antônio Silvino”. Apelidado, inicialmente de: (Batistinha, Nezinho ou “Rifle de Ouro”). Nascido em 02 de Novembro de 1875, em Afogados da Ingazeira, na região das margens do rio Pajeú, em Pernambuco, cujo nome verdadeiro era: Manoel Batista de Morais, filho de: Francisco Batista de Morais e Balbina Pereira de Morais. Antônio Silvino entrou no Cangaço, inicialmente, para vingar a morte do pai que fora assassinado a mando do coronel: Luís Antônio Chaves Campos, que não gostava nenhum pouco do “Batistão do Pajeú”, como era conhecido na região, seu pai, pela fama que tinha de “valentão”. Antônio Silvino, juntamente com o seu irmão: Zeferino entraram no grupo do cangaço do seu tio: Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque, e juraram vingança a todos que tiveram relação com a morte do seu pai. E, assim, o fizeram: mataram todos os envolvidos na morte do seu pai. Após a prisão e posteriormente a morte do tio, Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque, todos os cangaceiros do bando do tio foram recrutados por Antônio Silvino para fazerem parte do seu bando, o fazendo assumir de vez o comando do cangaço, passando a partir de então, a exigir de todos, o tratamento de: “Capitão”! Foram muitas histórias de “crueldades” e “boas ações” Existiam aqueles que o tinha como um “bandido cavalheiro” Diziam que ele era de fato, “um justo”, pois, “respeitava”: crianças, velhos, mulheres e doentes. É tanto, que um poeta daquela época, o descreveu assim:

Antônio Silvino é
Cangaceiro do sertão,
Mas não ataca a pobreza,
Antes lhe dá proteção;
Mas tem orgulho em matar
Oficial de galão.

Já outros, os tratavam como um “bandido cruel”

Já ensinei aos meus cabras
A comer de mês em mês,
Beber água por semestre,
Dormir no ano uma vez,
Atirar em um soldado
E derrubar dezesseis

Com o passar do tempo a sua fama se espalhou por todo Brasil, obrigando as autoridades a intensificarem as buscas para sua captura. A mando do governador de Pernambuco, General Dantas Barreto, o alferes: Teófanes Torres, que era o delegado da cidade de Taquaritinga PE, partiu com a sua volante com destino para e região da caatinga, no Sítio Lagoa da Laje, em Santa Maria, onde Antônio Silvino e o bando estavam escondidos. Então, em 28 de novembro de 1914, Antônio Silvino, já baleado, com parte do pulmão transfixado por uma bala, foi capturado e levado inicialmente, para a cadeia da cidade de Taquaritinga, mas, devido a gravidade dos seus ferimentos, teve que ser transportado, – à cavalo – , por 40 quilômetros, para a estação do trem de Caruaru, onde embarcaria para Recife. Logo após que aparentou uma melhora na saúde, foi a julgamento e pegou 239 anos 8 oito meses de detenção, porém, por bom comportamento, só tirou 23 anos 2 meses e 18 dias, sendo beneficiado por Getulio Vargas, através de um indulto. Passou, posteriormente, a residir com uma prima na cidade de Campina Grande, PB. Na R: Arrojado Lisboa, aonde veio a falecer em: em 30 de julho de 1944, deixando vários filhos: Damiana, Isaura, Severina, José, Manoel, José Batista, José Morais e Severino. Foi enterrado no cemitério do Monte Santo, mas, após se passarem dois anos, os seus ossos deram lugar para outros, pois, ninguém reclamou dos direitos aos seus restos mortais.

Antes de morrer, escreveu:

“Minha vida todo mundo conhece. Vinte e três anos de reclusão alteraram o meu destino. Mas, diga lá fora, que eu nunca roubei, nem desonrei ninguém, e, se matei alguma pessoa, foi em defesa da própria vida, evitando cair nas mãos de inimigos”.

“Nunca tive medo de morrer em pé, quando campeava pelo Nordeste, mas, agora, deitado, não quero morrer, se bem que não tenha medo do inferno, pois se para lá for, disputarei um lugar de chefe, um posto de comando qualquer. Pro céu é que eu não quero ir, pois, ao que me consta, lá não há campo pra luta, nem lugar para Capitão de mato como sempre fui. Quero viver mais um pouco, mesmo com esta agonia que estou sentindo, com esta falta de ar, com esta falta de conforto”.

Patos, 11/12/2022
Anchieta Guerra

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