UFRN desenvolve alternativa terapêutica mais eficiente para catarata e DMRI

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um novo sistema de liberação modificada para a luteína, substância que contribui para o retardamento dos sintomas da Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) e da catarata, além de ser uma substância importante no combate ao câncer.

A pesquisa resulta em uma alternativa terapêutica para doenças relacionadas com a perda da visão, nas quais, de acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, a cegueira é evitável em 75% dos casos.

Utilizando os dados relativos apenas à catarata, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde indica que a incidência anual da doença é superior a meio milhão de casos novos no Brasil. Atualmente, a sociedade científica internacional tem demonstrado preocupação com o fato de que, nos países em desenvolvimento, o número de cirurgias de catarata realizado é insuficiente diante da necessidade da população.

Uma das causas dos números é que, com a idade, existe a propensão à redução de luteína dos tecidos oculares, o que possibilita o surgimento de algumas doenças nos olhos que levam à perda total da visão.

Com o aumento da expectativa de vida da população mundial, essa propensão acentua-se. Como potente antioxidante, a luteína consegue reduzir em 40% a incidência de luz danosa à retina do olho, filtrando a luz azul que é prejudicial à mácula, estrutura da retina responsável pela visão de detalhes.

O nutriente não é encontrado em nosso corpo, razão pela qual é necessária a ingestão regular através de alimentos como laranja, maçã e vegetais verdes.

“Utilizamos as potencialidades da nanotecologia para favorecer a liberação, aplicação e absorção da luteína, a princípio no ambiente de tratamento oftalmológico. Essa utilização permite maximizar a eficácia na absorção do nutriente na mucosa do olho. A partir de um melhor direcionamento, resulta em aumento da taxa de dissolução, diminuição da dose administrada e redução de toxicidade. A luteína é usada para tratamento em algumas enfermidades, dentre elas as infecções oculares”, explicou o cientista Matheus de Freitas Fernandes Pedrosa, professor do Departamento de Farmácia da UFRN.

Vinculado aos programas de pós-graduação em Desenvolvimento e Inovação Tecnológica em Medicamentos e o de Ciências Farmacêuticas, o estudo foi objeto de depósito de pedido de patente em 2019, com cotitularidade da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e é fruto de pesquisa desenvolvida no âmbito do Laboratório de Tecnologia e Biotecnologia Farmacêutica (TECBIOFAR).

A autoria também inclui Maria José Sarmento Filha, Alaine Maria dos Santos Silva, Arnóbio Antônio da Silva Júnior, Karla Samara Rocha Soares Pimentel, Girliane Regina da Silva, Tânia Maria Sarmento da Silva e Celso Amorim Câmara. Segundo o professor Arnóbio Júnior, o olho atualmente absorve apenas 1% das substâncias dos colírios, enquanto que, com as estruturas nano, há um aumento exponencial no grau de penetração das substâncias no interior do globo ocular.

“O nanocarreador é uma estrutura minúscula que pode ter entre um a mil nanômetros. Comparar o mundo nano ao mundo real é confrontar o tamanho do globo terrestre com o de um limão. Quando a partícula nano entra na célula, pelo processo de endocitose, é como se ela comesse a partícula, o que diminui a perda de moléculas. Uma analogia muito comum na área de antibióticos é a pessoa usar o exército contra as bactérias. Da mesma forma, quando você coloca uma nanopartícula, é como se entrasse um tanque carregado com moléculas e liberasse essas moléculas no interior da célula”, afirmou Arnóbio Júnior, pesquisador em nanotecnologia farmacêutica, alternativa promissora para melhorar a eficácia dos fármacos e biomoléculas.

Ambos pesquisadores deram outros detalhes em vídeo disponibilizado no endereço https://www.instagram.com/agirufrn/?hl=pt-br.

Também docente do Departamento de Farmácia da UFRN, ele citou algumas vantagens do sistema criado, como o fato das moléculas se concentram na interação do tecido afetado, por ser possível controlar a agregação dessas moléculas no tamanho nano.

No caso da invenção patenteada, especificamente à oftalmologia, os cientistas pensam em uma terceira geração de colírios que incorporem a nanotecnologia.

“A empresa que se interessar por esse depósito de patente, a depender de seu aporte tecnológico, vai ter acesso a possibilidades diferentes de nanocarreadores para ter um colírio no mercado para a área oftalmológica. Pensando em outras áreas, pois a luteína é importante no combate ao câncer, a gente pode também ter produtos para suplementação por via oral baseados em nanocarreadores, para aproveitar esse viés da absorção”, acrescentou Arnóbio Júnior.

As orientações e explicações a respeito dos aspectos para patentear uma determinada invenção são dadas na Agência de Inovação (AGIR), unidade localizada no prédio da Reitoria.

“É importante que os pesquisadores atentem para a perspectiva de patentear o resultado de seu estudo, desde, obviamente, que ele atenda a aspectos como novidade, capacidade inventiva, aplicação industrial e suficiência descritiva, necessários para a solicitação de patenteteabilidade. A patente é a garantia de proteção contra uso indevido, já que é através dela que os inventores detêm o privilégio e o direito de propriedade e uso exclusivo do produto em questão”, explicou o diretor da AGIR, Daniel de Lima Pontes.

Para Maria Sarmento Filha, uma das pesquisadoras que colaboraram pela UFRPE no estudo, “é relevante o registro de uma propriedade intelectual em um órgão competente, pois esse registro é necessário para que as invenções sejam protegidas contra terceiros e para que se garanta o reconhecimento dos criadores”.

O professor Matheus Pedrosa destacou ainda que está implícito no processo de patentear o despertar dos pesquisadores em desenvolver trabalhos inovadores. Ele complementou afirmando que pensar em prioridade no mercado está correlacionado com a definição de patente.

“Mas o universo é muito mais abrangente. Para chegar em uma prioridade de mercado, exige toda uma tecnologia, uma inovação tecnológica envolvida no desenvolvimento do estudo, com um trabalho que vai desde os estudos básicos até os estudos aplicados; exige expertise diferenciada dependendo da natureza da patente, a busca pelo conhecimento e a divulgação do mesmo sem comprometer o depósito da patente”.

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1 comentário em “UFRN desenvolve alternativa terapêutica mais eficiente para catarata e DMRI”

  1. Bom dia, Roberto!
    Nesse trabalho foi depositada uma patente em que tem uma pesquisadora caicoense, que está citada no texto: Alaine, que sou eu. Muito importante valorizar o que é nosso. Parabéns pela divulgação da matéria.

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