Por Antônio Neves – (Professor/historiador)
Olhando assim, pelo pânico e pelo terror da morte, a gente logo imagina a pandemia coronavírus como uma doença que vai por fim a vida humana na terra, mas observando a história com a pena dos acontecimentos, vamos perceber que esta não é a primeira e, certamente, não será a última pandemia mortífera a assolar a humanidade, vai passar!
Desde o século XIV, só pra ilustrar este recorte temporal da história das grandes epidemias, é possível relatar momentos difíceis para a humanidade com saldos de mortes que se espalham através de vírus agressivos e sem cura: da Peste Negra no século XIV ao coronavírus no século XXI, o equivalente é uma crise sanitária de grandes proporções.
A peste bubônica (Peste Negra), doença causada por uma bactéria que teve origem na China e Ásia Central, foi a mais assombrosa das epidemias até hoje. Estima-se que tenha matado metade da população europeia, em torno de 50 milhões de pessoas entre 1343 e 1353. A cólera, doença que ainda não foi erradicada, matou entre 1817 e 1824 milhares de pessoas em todo o mundo. Acredita-se que essa tenha sido de fato a primeira epidemia que alcançou todos os continentes, ao contrário da Peste Negra, que se manteve na Eurásia e Norte da África.
Crises sanitárias dessa natureza mais parecem um mal que ocorrem sempre nos primeiros vinte anos da cada século. A gripe espanhola começou na Espanha no início de 1917 e se tornou uma das mais resistentes doenças de todos os tempos, entre 1918 e 1920, infectou 500 milhões de pessoas matando aproximadamente cem milhões no mundo todo. No Brasil mais de 35 mil pessoas morreram, entre as quais o presidente Rodrigues Alves, que faleceu antes de assumir a presidência da República pela segunda vez.
Com a mesma agressividade da gripe espanhola, a Varíola matou cerca de 300 milhões de pessoas. Tal doença afetou a humanidade de forma significativa, por mais de 10000 anos, só no século XVIII morreram de varíola na Europa cerca de 400000 pessoas por ano. Estima-se que ao longo do século XX a varíola tenha causado entre 300 e 500 milhões de mortes. Múmias, como a de Ramsés V, que data o período de 1157 a.C, apresentam sinais típicos da varíola.
Por outra escala, a situação de fome e miserabilidade deixadas na Europa após o fim da Primeira Guerra mundial criaram um ambiente propício para o desenvolvimento do Tifo (Febre Tifóide) que matou mais de 3 milhões de pessoas entre 1918 e 1922. Já o surto de tuberculose que ocorreu entre 1850 e 1950 acometeu milhões de pessoas no Brasil e mais de 1 bilhão de pessoas morreram em todo o mundo durante este período devido a doença.
Olhando a história com frieza, parece até que todo início de século a humanidade tem que pagar pedágio para superar o surto de alguma grave doença que logo se espalha e ceifa vidas por todo o planeta, no início dos anos 80 do século passado o vírus HIV/AIDS deixou suas vítimas. Agora é a vez do coronavírus, uma doença que não é nova, mas que alcançou patamares de pandemia e conseguiu parar o mundo, o detalhe do momento em que ela ocorre é o fato de tamanho problema se contrapor com o alto nível de desenvolvimento que a humanidade se encontra, apoiado em aparatos tecnológicos de dimensões interplanetárias, produção bélica atingindo enormes orçamentos nos países superdesenvolvidos, toneladas de grãos alimentícios produzidos, uma capacidade de comunicação jamais vista e uma população de 7 bilhões de habitantes atordoada. Apesar de termos conquistado tanto progresso, inclusive científico e medicinal, nos encontramos acuados, frágeis, governantes do mundo inteiro sem respostas e milhares de pessoas sendo mortas por um vírus que nos elimina tanto quantos os outros fizeram há seis séculos.
[…] Mas ainda não é o fim…