A governadora Fátima Bezerra avalia que o Rio Grande do Norte está começando a “colher os frutos” das medidas restritivas adotadas pela gestão estadual para conter o avanço do novo coronavírus. Segundo Fátima, o Estado hoje vê a desaceleração no número de casos confirmados e óbitos pela Covid-19 por causa do distanciamento social e do esforço feito pelo governo para ampliar a rede assistencial.
Nesta entrevista ao Agora RN, Fátima detalha as ações do governo durante a pandemia de Covid-19 e afirma que o fato de ela ter ficado isolada em casa nos primeiros meses da crise sanitária não a impediu de conduzir o enfrentamento à doença.
A governadora diz ainda que, apesar das divergências com o prefeito de Natal, Álvaro Dias, quanto às medidas para enfrentar a Covid, seu governo sempre esteve à disposição do diálogo para traçar estratégias conjuntas com os municípios para lidar com a pandemia.
Sobre o momento político, Fátima voltou a criticar o Governo Federal pela falta de coordenação na pandemia e defendeu a formação de uma “frente ampla e plural” em defesa da democracia. Confira:
AGORA RN – A senhora tem mantido, na medida do possível, uma fidelidade em relação ao distanciamento social, inclusive agora, com a decisão de prorrogar a suspensão das aulas presenciais. O que a senhora diria aos críticos da medida?
FÁTIMA BEZERRA – O Brasil atingiu, semana passada, a infeliz marca dos 100 mil óbitos pela Covid. São mais de 3 milhões de casos confirmados e mais de 2 milhões suspeitos. Esses dados, por si só, revelam a tragédia que se abateu sobre nosso país e hoje, com um cenário menos desalentador, não temos dúvidas do quanto as medidas de isolamento foram imprescindíveis para o combate e controle da doença. Como governadora, fui a primeira a dar o exemplo. O fato de não sair às ruas não me impediu de trabalhar um segundo sequer. Ao lado do vice-governador, da Sesap e da nossa força-tarefa, viabilizamos os 567 leitos da rede de hospitais “Pacto pela Vida”, do Governo do Estado – proporcionalmente uma das maiores ampliações de rede do País; asseguramos a contratação de mais de 3.200 profissionais de
saúde para trabalharem nas unidades hospitalares do RN; tornamos possível com o RN+Protegido a distribuição de mais de cinco mil máscaras, junto com nossos parceiros, para a população do RN; e investimos em ações concretas na Saúde, somente no primeiro semestre deste ano, R$ 670 milhões – mais que o dobro do ano assado. Não foi fácil, em meio a uma conjuntura tão adversa – com a falta de uma estratégia nacional – enfrentarmos tantos desafios. Mas nós conseguimos, de um lado garantir a assistência à saúde e de outro sensibilizar as pessoas para as determinações de cuidados sanitários. Os frutos que nós estamos colhendo agora, com o Estado há semanas apresentando o quadro de melhoria, é resultado de gestão, trabalho e muita seriedade. Não só do Governo, mas de todos aqueles que estiveram e estão juntos nessa grande batalha: os Poderes, e aí
ressalto o importante papel os Ministérios Públicos no acompanhamento e fiscalização de todas as demandas; prefeituras; e sociedade em geral.
AGORA RN – E as escolas?
FB – Começamos a retomar as atividades da economia, mas setores, como o das escolas, ainda requerem muita cautela. Por isso mesmo, acatamos a recomendação do nosso comitê científico e prorrogamos por mais 30 dias a retomada das aulas. Até lá, a Sesap dará continuidade aos protocolos e continuará as análises com representantes das escolas públicas e particulares para avaliar o comportamento da pandemia do Estado. Ainda essa semana, os comitês gestor e científico se reunirão novamente para avaliar o quadro. Imagine que somente a rede pública conta atualmente com 216 mil alunos matriculados e o comitê entende que liberar as aulas agora seria colocar mais 1 milhão de pessoas à exposição do vírus.
AGORA RN – Não bastasse o fato de o Ministério da Saúde não ter dado diretrizes claras aos estados durante a atual crise sanitária, ao longo desta pandemia, a senhora tomou decisões em direção oposta às do prefeito de Natal, Álvaro Dias, e de outros prefeitos e prefeitas do Estado. Isso não prejudicou o combate ao vírus?
FB – O Governo criou a iniciativa que chamamos de “Pacto pela Vida” justamente para somarmos todos os esforços possíveis no combate à pandemia, sejam eles no âmbito das ações estruturais, sejam eles na conscientização e cuidados da população. Nós tivemos a parceria dos poderes, municípios e da sociedade em geral. Absolutamente todos foram convidados para as reuniões e discussões estratégicas. O tempo todo deixamos claro que a retórica negacionista do Governo Federal, no sentido de que não havia motivos para maiores preocupações e que a vida deveria seguir o percurso normal, não somente estava equivocada como era extremamente perigosa. A nossa narrativa sempre foi essa: ampliar a estrutura de leitos, sobretudo os críticos; conscientizar a população para o uso de máscaras e para somente sair de casa se necessário; ser transparente, muito transparente, com todas as medidas que estavam
sendo tomadas, tornando públicos todos os gastos realizados; e, posteriormente, no momento da abertura, dialogar com todos os
setores envolvidos.
Agora RN*