Na capital fluminense, o mapa das eleições presidenciais reflete o da violência. Conforme aponta um cruzamento de dados realizado pelo Congresso em Foco, o perfil da violência na cidade do Rio de Janeiro coincide com a escolha dos eleitores: nos bairros com maior incidência do poder das milícias, o presidente Jair Bolsonaro (PL) obteve vantagem. Nos bairros onde o crime organizado possui menor penetração, a vitória já foi do ex-presidente Lula (PT).
Os dados referentes à incidência das milícias foram obtidos a partir do Mapa Histórico dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, desenvolvido pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em parceria com a ONG Fogo Cruzado. Os dados eleitorais já são separados conforme suas respectivas zonas do Tribunal Superior Eleitoral, com alguns bairros possuindo mais de uma e algumas sendo compartilhadas entre dois ou mais bairros.
Confira a seguir os mapas com das eleições na cidade do Rio de Janeiro e da respectiva presença de milícias:

Centro-sul de Lula
No total de zonas eleitorais, Lula obteve a vantagem na capital fluminense, onde obteve maioria em 33 zonas, contra 16 de Bolsonaro. Geograficamente, tratam-se quase todas de zonas pequenas e densamente povoadas, concentradas ao redor do centro da cidade, acrescentando também toda a zona sul e bairros próximos na zona norte.
Essa região é formada por bairros majoritariamente de elevado poder aquisitivo, como Leblon e Botafogo na zona sul, com algumas exceções, em especial na zona norte. Em comum, tratam-se de bairros com baixa capilaridade do crime organizado, com atividade de facções criminosas (vermelho) restrita em maior parte aos arredores dos centros urbanos, e apenas pequenos enclaves da milícia (azul), em especial no Morro de Santo Antônio.
Fora dessa zona está um enclave na zona oeste de maior incidência a votos em Lula. Ao contrário dos demais bairros de maioria lulista, essa zona eleitoral engloba o bairro de Rio das Pedras, um dos principais redutos da milícia no Rio de Janeiro. A região ganhou maior relevância a partir de 2018, quando uma milícia local orquestrou o assassinato da vereadora Marielle Franco.
Oeste bolsonarista
Na zona oeste, os três bairros com maior concentração de milícias são também onde houve maior direcionamento de votos ao atual presidente. Campo Grande, com quatro zonas eleitorais e com intensa atividade de milícias, atingiu uma média de 57,49% de votos em favor de Jair Bolsonaro. Bangu, que é palco de confrontos entre milicianos e facções criminosas e contabiliza três zonas eleitorais, obteve 54,2% para Bolsonaro.
Santa Cruz, no extremo oeste da capital fluminense, também possui largas porções de seu território controlado por milícias. O padrão foi o mesmo: Bolsonaro obteve mais ao menos 53% dos votos. O mesmo aconteceu na vizinha Guaratiba, ao sul: o bairro de grande área verde e baixa densidade demográfica conta com concentrações de milícias em seus bolsões populacionais, e o atual presidente obteve 57,2% dos votos.
Outro tradicional reduto das milícias na cidade é Jacarepaguá, onde as zonas eleitorais contam com dois resultados distintos: na região com menor atividade da milícia, que divide a zona eleitoral com Rio das Pedras, o resultado foi pró-Lula. Na parte oriental do bairro, onde a presença das milícias se encontra cristalizada, o resultado já foi majoritariamente pró-Bolsonaro.
Confira o mapa da criminalidade na região: