Por Antônio Neves – Professor e historiador.
Já é conhecido aquele velho ditado que diz que “santo de casa não faz milagres “, o que parece ser verdade. Mas se nem todo santo tem seus milagres reconhecidos por quem deles se beneficia, tanto quanto, os chamados “artistas da terra”, que procuram uma luz de reconhecimento nos holofotes das artes que produzem, também vivem o dilema da mendigância para puderem promover a tão reivindicada cultura e serem reconhecidos como atores da promoção e do desenvolvimento cultural.
Já dissera uma vez, certo gestor local, indiferente ao papel e contribuições da cultura e das artes para o desenvolvimento social e humano do nosso povo, que – “artista da terra é minhoca”, – isso, porque o mesmo nunca teve o menor interesse de colocar em prática um projeto de apoio financeiro e estrutural aos artistas caicoenses, preferiu desmerecer as contribuições que as artes podem dar à população, considerando que as expressões artísticas são, também, meios de promoção da cidadania, e tudo o que fortalece a cidadania não pode ser considerado despesas, mas sim, investimento!
Os artistas e as artes caicoenses continuam a espera de um mecenas que os amparem no colo provedor do financiamento cultural. Mesmo que hoje em dia já existam leis que regulamentam os Editais de fomento para a cultura, financiando projetos musicais, teatrais, cinematográficos, literários, entre outros, ainda é baixa a produção local e, menor ainda é a participação popular nos espaços de difusão artística em nossa cidade, e os espaços destinados para estes fins, como o Centro Cultural, vive quase fechado.
Apesar dos esforços da classe artística, menos de 10% da população caicoense tem acesso e consumem o pouco que é produzido por aqui, mesmo considerando a boa qualidade dos nossos artistas, nos seus vários cenários de produção e atuação, ainda não se consegue atingir um público rentável que compense maiores investimentos. Tudo ainda é muito amador.
Mas nem só de talento e boa vontade vive um artista, menos ainda, só de aplausos. Sem incentivo nem apoio estrutural e, principalmente, financeiro, cultura e arte serão sempre um belo cartaz cheio de boas intenções. Se temos bons elencos para a diversidade das produções artístico-culturais na cidade, já não podemos dizer a mesma coisa de como o poder público municipal se comporta diante desta pauta. Prefeitos desta e de gestões anteriores, além de não terem oferecido propostas nem projetos para acolher a demanda, sempre ignoraram, disfarçadamente, os apelos da classe artística, e isso tem muito a ver com o conceito de – o que é cultura e para que serve, – de cada um desses gestores.
Uma grande contradição que justifica o que digo é a inversão das prioridades ou a ausência de uma quando avaliamos a forma de como os poucos recursos destinados para estas áreas, através de emendas parlamentares ou outros meios legais são direcionados de forma desigual e sem critérios para os envolvidos.
Enquanto o ano inteiro, artistas locais mendigam o mínimo de apoio possível para colocar em prática seus projetos culturais, muitas vezes com fins educacionais e gratuitos para a população, sugestões de parcerias com o poder público são ignoradas ao mesmo tempo em que montantes significativos de dinheiro são direcionados, num único cheque, para artistas de outros lugares, exemplo disso é a repartição do bolo que paga as atrações “artisticas” da Festa de Sant’Ana e do carnaval: muito dinheiro para alguns, quase nada para outros, e, nesta lógica, nem estamos questionando a qualidade e o talento artístico de quem vai receber, tudo depende do marketing e dos holofotes que a atração vai oferecer para quem está pagando.
Nunca é demais lembrar que na maioria dos grandes eventos realizados na cidade, os artistas locais ficam de fora ou quando são incluídos, se veem forçados a receber cachês humilhantes, muitas vezes com atraso, pois, há quem ache que, por ser artista local, deveria este mostrar seu trabalho, de graça, como forma de aproveitar o momento para se promover. Tais atitudes disfarçam o absurdo do descaso.
Quando as artes são apropriadas pelo capital, deixa de ser arte e vira mercadoria, pois, só quem terá acesso a ela é quem estiver inserido no mercado de consumo, da produção e do trabalho; fora disso, cabe ao Estado prover políticas públicas culturais que permitam ao povo vivenciar suas tradições atraves das artes locais, mas o povo não tem consciência do que isso significa.
Seja por meios públicos ou privados, o artista, obrigatoriamente, deve ser bem remunerad@, isso significa dizer que para os produtores culturais e os que vivem da arte, não é possível estar sob as luzes do palco, das ruas, das telas ou do picadeiro, apenas por amor. Sem incentivo, apoios e dinheiro, tudo será apenas fantasia e vontade de fazer, porque desde os tempos romanos, arte custa caro.
Ou será que em Caicó, ser santo é melhor do que ser artista?