Risco de fuga, obstrução de investigações, milhões para o filho: os motivos que levaram à tornozeleira eletrônica de Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a usar tornozeleira eletrônica nesta sexta-feira (18), por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF).

A medida, classificada por ele como “suprema humilhação”, foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, que também impôs recolhimento domiciliar noturno, proibição de uso de redes sociais e de contato com investigados, diplomatas e embaixadores. Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

A decisão foi motivada por uma série de fatores apontados pela PGR e por Moraes.

Veja os principais motivos apresentados pelas autoridades:

1. Risco de fuga

A PGR alertou o STF para o que classificou como uma “concreta possibilidade de fuga” de Bolsonaro. A avaliação levou em conta o avanço das investigações da tentativa de golpe de Estado e o risco de que o ex-presidente deixasse o país para escapar da Justiça.

Com base nisso, a procuradoria solicitou medidas cautelares urgentes, acatadas por Moraes, que impôs recolhimento domiciliar das 19h às 6h (inclusive fins de semana) e o uso de tornozeleira eletrônica.

2. Obstrução de Justiça com apoio ao filho

Outro argumento central da PGR foi a atuação coordenada entre Bolsonaro e seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para obstruir investigações em curso no STF.

Segundo a apuração, Bolsonaro enviou R$ 2 milhões via Pix para Eduardo no dia 13 de maio de 2025 — quando o filho já estava nos Estados Unidos. Para Moraes, o repasse é um “forte indício de alinhamento” entre pai e filho com o objetivo de atrapalhar a ação penal.

A PGR sustenta que ambos vêm “adotando medidas deliberadas” para interferir no andamento dos processos, o que representa risco real à aplicação da lei penal.

3. Confissão de tentativa de extorsão contra a Justiça

A decisão de Moraes também menciona declarações públicas de Bolsonaro que, segundo o ministro, configuram tentativa de extorsão contra a Justiça brasileira.

Após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar um tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras, Bolsonaro relacionou a retirada das sanções à possibilidade de ser anistiado no Brasil.

“Vamos supor que Trump queira anistia. É muito?”, declarou em entrevista coletiva. Para Moraes, a fala representa uma “confissão consciente e voluntária” de coação no curso do processo, além de atentado à soberania nacional.

4. Material apreendido pela PF

Durante operação de busca na casa do ex-presidente, a Polícia Federal apreendeu:

  • Um pen drive escondido no banheiro;
  • Cerca de US$ 14 mil e R$ 8 mil em espécie;
  • Cópia da ação movida pela plataforma Rumble contra Moraes nos EUA.

O dispositivo e os documentos serão periciados. Bolsonaro alegou não saber da existência do pen drive e disse que perguntaria se ele pertencia à esposa, Michelle.

Sobre os dólares, afirmou que possui recibo do Banco do Brasil. Ter dinheiro em casa não é ilegal, mas valores acima de US$ 10 mil precisam ser declarados à Receita ao cruzar fronteiras.

5. Articulação internacional contra o STF

A cópia da ação da Rumble apreendida na residência de Bolsonaro reforçou, segundo Moraes, o envolvimento do ex-presidente em articulações internacionais para pressionar o STF.

A ação da Rumble — aberta em conjunto com a empresa de Trump — acusa Moraes de censura e tenta impedir que decisões do STF tenham efeito em território americano. Para a Corte brasileira, essa articulação fere a soberania nacional.

6. Medidas cautelares impostas a Bolsonaro

Veja as principais restrições impostas pelo STF:

▶️ Uso de tornozeleira eletrônica

▶️ Recolhimento domiciliar entre 19h e 6h e aos fins de semana

▶️ Proibição de uso de redes sociais

▶️ Proibição de se comunicar com diplomatas, embaixadores, réus e investigados, inclusive Eduardo Bolsonaro

▶️ Proibição de entrar ou se aproximar de embaixadas e consulados

7. O que diz Bolsonaro

Após a instalação da tornozeleira, Bolsonaro afirmou:

“Nunca pensei em sair do Brasil ou ir para embaixada.”

Ele negou ter cometido irregularidades e classificou a operação como política.

A defesa do ex-presidente declarou que recebeu as medidas com “surpresa e indignação”, e que Bolsonaro tem cumprido todas as determinações judiciais.

8. Crimes investigados

A decisão do STF aponta que Bolsonaro pode ter cometido:

  • Coação no curso do processo (pena de até 4 anos)
  • Obstrução de investigação contra organização criminosa (pena de até 8 anos)
  • Atentado à soberania nacional (pena de até 8 anos)

Se condenado pelas penas máximas dos crimes investigados, Bolsonaro pode pegar até 20 anos de prisão nesse caso.

G1*

Gostou? Compartilhe...

Mais Sobre Justiça

Rolar para cima