Artigo: Auxílio alimentação e as esmolas do poder

Aos toques dos clarins carnavalescos, a Câmara Municipal de Caicó aprovou com 13 votos a favor e 2 contrários, um projeto de lei da Mesa Diretora concedendo Auxílio Alimentação no valor de R$ 1.500,00 para todos os vereadores e vereadoras deste poder legislativo e, para disfarçar, concedeu o valor pela metade aos servidores da Câmara. Como se fosse a coisa mais natural do mundo, vereadores e vereadoras que já ganham um salário de R$ 11.900,00 (segundo a Lei nº 5.522, de 23 de fevereiro de 2024), decidiram aprovar uma engorda salarial sob a justificativa desse Auxílio; um benefício financeiro sem precedentes que foi aprovado no barulho do carnaval para que passasse desapercebido, sem que o povo tomasse conhecimento de como aqueles que deveriam zelar pela ética e pela coisa pública se comportam nos bastidores suspeitos da política local. Será que o já bem pago salário de um vereador não é o suficiente para garantir, no mínimo, a alimentação desses pobres edis caicoenses?

Se formos considerar que a média salarial mínima do trabalhador brasileiro é de R$ 1.500,00 trabalhando seis dias por semana, 30 dias no mês, enquanto que no município de Caicó ainda temos pessoas vivendo em situação de vulnerabilidade social, nem sempre tendo o que comer todos os dias da semana e que parte da população local é assalariada, a atitude dos ilustres vereadores e vereadoras que só trabalham dois dias semanais, deve ser considerada um insulto ao bom senso e um descaso a realidade do povo caicoense.

A aprovação deste Auxílio Alimentação é uma prova desavergonhada do oportunismo e das negociatas políticas daqueles que usam o dinheiro público, indiscriminadamente, para fins pessoais, contando, inclusive, com o aval do Poder Executivo municipal, pois, ao final das contas, o gado precisa estar bem alimentado.

Não é difícil de entender como manobras imorais como estas acontecem na política brasileira, não sendo diferente em Caicó, numa Câmara de Vereadores improdutiva que, historicamente, não exibe nenhum remorso pelo total descompromisso em buscar soluções efetivas para os problemas da cidade, menos ainda, com o exercício do verdadeiro papel do vereador, ignorando, por conveniências, situações graves em todas as áreas administrativas que se acumulam sem resolutividade ante as necessidades da população.

Parece que a única coisa que nos resta é indignar-se diante de aberrações como estas. Na cidade do “pão e circo” não termos pães suficientes para saciar a fome de poder e dinheiro dos nossos desavergonhados representantes políticos que, sem nenhum escrúpulo, garantem, primeiro, seu bem-estar, enquanto a nossa população amarga “o pão que o diabo amassou”. Não é à toa que para alguns afortunados, esta terra é chamada de “pedacinho do céu”, pois entre auxílios e esmolas, também temos os mendigos da política.

Como bem cantou Luiz Gonzaga e Zé Dantas em Vozes da Seca: “[…] mas doutor, uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…”

Professor Antônio Neves

Cidadão caicoense

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