Por Professor Antônio Neves
Estamos a poucas semanas do Carnaval, o país inteiro guarda suas expectativas para a maior festa popular do mundo. Não há um evento festivo mais democrático do que o carnaval, e, em Caicó, não poderia ser diferente, há mais de cem anos que realizamos nosso evento de Momo onde durante todo este tempo, só faz crescer e se popularizar, somando o tradicional ao moderno, reinventando-se, expressando em quase dez dias de festas, variadas manifestações de fantasia, diversidade, paz e tranquilidade.
Atualmente, com a proliferação dos espaços tecnológicos como a internet e suas redes sociais, o debate sobre a realização e possibilidades do carnaval em Caicó ganhou opiniões divergentes sobre a magnitude da nossa festa. Tem aqueles que juram de pés juntos que nosso carnaval está prestes a acabar, alegam desde a ausência de maiores investimentos dos poderes públicos (leia-se Prefeitura), até a falta de uma melhor estrutura e logística. Tem também aqueles que garantem que o carnaval não acaba e só cresce, porque o povo é quem faz a festa. Porém, uma coisa não se pode negar: a liberdade carnavalesca é um fator de inclusão direta de todas as camadas populares, seja para participar diretamente como folião, seja para comercializar ou prestar algum tipo de serviço remunerado durante os dias de festas e reforçar o orçamento familiar.
Um debate que se repete todos os anos é o que se faz sobre as atrações que deveriam vir animar o nosso carnaval; uns reivindicam que o carnaval só seria realmente “grande”, com a participação de artistas nacionais renomados para abrilhantar as festas (mesmo que fossem festas privadas, onde só entra quem pode pagar); já outros tantos entendem que pela dimensão que o nosso carnaval já atingiu, com um fluxo de foliões pelas ruas da cidade por quase dez dias e um número significativo de visitantes que recebemos todos os anos de forma crescente, somadas a isso, as atrações locais, não tem como negar a consolidação de um dos maiores carnavais do estado.
Querer condicionar o tamanho da animação e da movimentação do nosso carnaval e sua viabilidade econômica, somente a participação de grandes artistas e bandas nacionais é ignorar e apequenar o que sempre tivemos de melhor (no passado e no presente). Quem sempre realizou e ainda realiza o carnaval de Caicó são os caicoenses e seus artistas populares e espetaculares, desde o mais anônimo dos papagús e brincantes dos blocos do Lixo até os catadores de latinhas que transitam no Corredor da Folia.
Quem ousa negar a indispensável importância do Bloco do Magão e seu Alaursa, a resiliência da turma do Treme-treme, a inovação da Orquestra Furiosa, a corajosa persistência do Bloco Canguru, a iniciativa da Orquestra Flor de Mandacaru, o talento de Jonas Linhares, Dodora Cardoso, Djalma Mota, Jasiel Medeiros, Solange Silva, Marquinhos Carreira, Marx e Banda Estrelar e todos os grandes e qualificados músicos das orquestras populares e bandas de frevo ou de rock, axé ou pagode que animam a festa das 11h da manhã até as 3h da madrugada durante cinco dias, gratuitamente, para mais de 70 mil foliões pelas ruas da cidade, com extraordinária cobertura das nossas emissoras de rádios e outras mídias alternativas? Contando com tudo isso, você tem certeza que corremos mesmo o risco de fazer sucumbir o nosso carnaval?
De Manoel de Nenem à seo Firmino da Escola de samba Nova Portela, de seo Diógenes do Bloco do Lixo com o Zé Pereira anunciando o domingo de Entrudo, da Sede dos Morenos aos carnavais do Corso da Coronel Martiniano, dos grandes bailes de blocos no Clube Coríntians às manhãs de Sol no Iate Clube, dos belos carnavais em frente ao Hotel Vila do Príncipe (hoje Centro Administrativo), passando pela Praça Dom José Delgado até chegar a Ilha de Sant’Ana, uma coisa precisamos ter clareza e afirmar com propriedade: o carnaval de Caicó tem história e é longevo, sempre foi feito com gente nas ruas e segue crescendo para melhor, nas ruas! Quem o enxerga para baixo é porque o ver com as lentes da ambição do lucro e do egoísmo financeiro, numa tentativa de querer privatiza-lo, elitiza-lo, deforma-lo, ou pensando apenas na própria satisfação pessoal.
Seja no pingo da meidia, no Bloco do Lixo ou no calor da frevioca, atrás do trio elétrico, no Camburão da Folia ou no privado de um clube qualquer, carnaval tem suas particularidades, sustenta-se sobre uma tradição peculiar, é por isso que só se realiza por cinco dias no ano, o resto fica por conta de quem não pula, mas quer manipular a festa do povo.
Longa vida ao carnaval popular de rua de Caicó!