Artigo: Governo Lula começa a cair, quem o reerguerá?

Recentes pesquisas de opinião dão conta que as aprovações do Governo Lula III e do próprio presidente estão em quedas. A oposição e os setores reacionários da direita e associados comemoram e dão suas contribuições para ampliar os desgastes.

É preciso analisar friamente os números das recentes pesquisas para entender por que o governo vai tão mal avaliado e a popularidade do presidente estar em baixa (35% de aprovação, 33% de reprovação, segundo Datafolha em 21 de março), apesar dos resultados positivos da retomada do Brasil na sua agenda econômica, a queda gradual dos juros, os bancos e o mercado sempre lucrando, a reforma tributária em andamento e ampliação dos programas sociais. A inflação nos preços dos alimentos é um catalisador desse desgaste.

Observando este cenário, parece que a população não tem percebido as mudanças de forma positiva, é como se não fosse um novo governo, mas apenas a continuidade dos dois anteriores. Diante as expectativas criadas com a volta de Lula e o PT ao Planalto, os brasileiros esperam uma novidadeantenada com as demandas que o momento exige, mesmo sendo importante resgatar conquistas que foram desmontadas pelas maldades da era bolsonarista.

Eleito como fiador da democracia que estava à beira de um golpe, as ações do governo e do próprio Lula continuam sob fogo cruzado, qualquer declaração do presidente, principalmente sobre assuntos da política externa ou da pauta de costumes, logo vira motivos para intensos debates, questionamentos e puxões de orelhasda “gloriosa e democrática” imprensa nacional, o que torna o governo alvoda sanha da extrema direita sedenta por um deslize que justifiqueagressões deliberadas da oposição fascista.

Diante tal cenário, não é difícil de perceber que o momentoLula III tem seus percalços, muitos deles, domésticos, e isso precisa ser corajosamente reavaliado, mesmo confrontando as vaidades do presidente e a hegemonia petista. Erros de comunicação têm sido motivos explícitosdo crescimento da desaprovação popular a Lula, e não é só a comunicação do governo. A forma como o próprio presidente, ministros e membros da alta hierarquia do PT vêm se comunicando com a população também precisa ser levada em consideração na hora de computar os estragos causados na opinião pública que está mais conservadora e despolitizada.

Habituado a informalidades em entrevistas e cerimônias oficiais, Lula não controla a língua, quebra protocolos, opina sobre tudo e, muitas vezes, tem dado tiro no pé pela forma voluntariosa e sem maiores critérios como aborda determinadas questões, algumas, bastante espinhosas que são sempre interpretadas de acordo com as conveniências da política e dos interesses dos envolvidos.

Empenhado em reconstruí sua imagem de estadista na política externa, o presidente tem se metido em vespeiros – as guerras da Ucrânia-Rússia e de Israel-Palestina, as crises na Venezuela, Nicaragua e na Argentina, e a pauta climática, têm sido assuntos desfavoráveis a sua imagem;destaca-se, também, sua obsessão política por atacar Bolsonaro por menor motivo que seja. Bolsonaro continua sendo o pesadelo do Brasil, e Lula, o seu memorial, pois o capitão degenerado não lhe sai da lembrança.

No Planalto, mesmo com a crise de impopularidade crescente, fica claro que ninguém ousa se indispor com o chefe a ponto de orienta-lo a assumir uma mudança de estratégia sobre falas, opiniões e alianças. Assessores e aliados íntimos têm o desafiode fazer o presidente entender que o tamanho do Brasil na política internacional é proporcional a nossa capacidade diplomática de assumir posições onde a opinião pública tenha clareza do que realmente está acontecendo mundo afora, e, em tempos de fake News, fascismos, golpismos e fanatismo religioso, o conservadorismo nacional ganha olhares cegos que distorcem a realidade.

Se o Governo Lula III está vivendo uma crise de identidade e inovação, a militânciaPTista, as esquerdas e movimentos sociais estão mais confusos ainda, embrenhados numenfrentamento inútil ao bolsonarismo nas redes sociais, enquanto a extrema direita por ele representada ganha as ruas tocando o terror na democracia.

Desarticuladas, acuadas e com poder de mobilização debilitado, as esquerdas voltaram as ruas (no sábado 23/3), sem pautas de reivindicações claras, nem avaliações corajosas em relação a crescente desaprovação do governo Lula, para muitos, é melhor culpar somente os adversários e focar na defesa da democracia, revivendo as lembranças de 1964;criando mera cortina de fumaça para não enxergar uma possível crise de governabilidade que estar por vir.

Num país em que o povo sempre espera por um salvador da pátria, é preciso que o governo se salve primeiro, antes que, tal qual um peixe, morra pela boca!

Antônio Neves

Professor e historiador

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