Artigo: Lula, O presidente solitário!

Eleito para seu terceiro mandato, desta vez como fiador da democracia, depois de quatro anos do terror bolsonarista e da extrema direita, o presidente Lula se ver diante do maior dilema político da sua trajetória como líder popular do Brasil – o isolamento político.

Analisando friamente o cenário nacional e internacional, não é difícil perceber que o presidente se encontra num processo de isolamento global ante o que outros líderes imperialistas da Europa, EUA e Ásia defendem no momento atual. Com um discurso intransigente por políticas de combate à fome e a desigualdade, defesa do multilateralismo, lutando por uma agenda de combate as mudanças climáticas e por uma paz duradoura entre as nações a partir do instrumento da democracia, Lula parece um estranho no ninho, considerando que as prioridades de outros presidentes e chefes de Estados e nações seguem na contramão do que ele propõe no balcão das Nações Unidas.

Enquanto Lula busca apoio internacional para suas ações, os Estados Unidos promovem deportações em massa de cidadãos não americanos, aumentam sua presença militar no mundo e apoiam o terrorismo de Estado em sua aliança mortal com Israel que transforma a Faixa de Gaza em um cemitério de agressões aos direitos humanos e a vida. Numa guerra de vizinhos, Rússia e Ucrânia fazem seu teatro de horrores e a União Europeia assiste a tudo com o olhar de hienas esperando os restos dessa tragédia para saciar sua fome de poder. Lula tem fome de justiça, mas está sozinho, sua agenda não interessa aos patrocinadores do caos.

No Brasil, a solidão político-administrativa de Lula é festejada como derrota das esquerdas. Esta solidão não condiz com os resultados das ações do seu governo nas áreas das políticas social e econômica, retomando políticas públicas para atender as demandas da população que, por hora, parece não está entendendo o alcance da manutenção e ampliação dos programas sociais, queda no desemprego que em 2024 atingiu o menor patamar de 6,6%, melhoria na renda básica dos trabalhadores, mais investimentos na educação, reforma tributária com isenção do Imposto de Renda para quem ganha até cinco mil reais e uma visível melhora da imagem do país pelo mundo. Contudo, parece que a única coisa que o povo deseja são ovos e café, o que é muito pouco para um país que, por séculos, tem fome de justiça e igualdade.

No contraponto dessa escalada de solidão política, Lula tem também que lidar com o boicote do mercado financeiro que busca, constantemente, sabotar a economia, a fim de favorecer a especulação, o rentismo e o dólar. Nas redes sociais, o Governo tem que lidar com uma extrema direita odienta que veicula mentiras fake News em nome de um projeto de poder golpista, usando o dilema da inflação para insuflar as massas contra o presidente, buscando enfraquecê-lo, para derrotá-lo em 2026.

A queda de popularidade do presidente, divulgada insistentemente através de pesquisas de opinião pela grande mídia nacional, é capim que alimenta o gado. Na possibilidade de uma crescente reprovação do governo, a direita festeja, antecipadamente, uma desejada derrota do presidente Lula à reeleição. Querer passar a imagem de um governo que não está dando certo é estratégia de garantias da elite econômica dominante, associada ao que há de pior na política brasileira, como forma de pavimentar o caminho para o retorno dos vendedores da pátria ao poder nas próximas eleições.

A solidão de Lula não é só no Planalto, no campo popular e nas ruas, o presidente também se ver abandonado. No momento quem pauta as ruas é o bolsonarismo, lutando por anistia para criminosos saudosistas da ditadura. Acuadas, as esquerdas e os movimentos populares abandonaram as ruas, perderam a capacidade de dialogar com as massas e com a classe trabalhadora.

A ausência de uma estratégia ofensiva contra a extrema direita e seus aliados, demonstra o quanto as esquerdas já não sabem agir de forma articulada e organizada. No meio ao vazio de lideranças, carecem de uma agenda de lutas pautadas na defesa do governo que ela mesma elegeu. Em um encontro de petistas, o próprio Lula deixou claro que é preciso retomar as bases, dialogar com o povo, refazer os caminhos das fábricas, se reaproximar das periferias, dos movimentos sociais e da juventude para garantir a continuidade de um projeto progressista e democrático para o país, mas parece que este não é o projeto das esquerdas. Contraditoriamente, em alguns estados e municípios, é exatamente com a direita, com quem a esquerda está aliada.

Lula isolado será apenas o líder do exército de um homem só, lutando contra um cenário global divergente, com um Congresso ultraconservador e corrupto, com o fantasma do bolsonarismo, os especuladores do mercado, criminosos ambientais, a desinformação via fake News da população e outros sabotadores do Brasil. Assim, não há carisma nem liderança que aguente. O que nos conforta é saber que, mesmo isolado, ele ainda está do lado certo da história.

Antônio NevesProfessor/historiador.

Gostou? Compartilhe...

Mais Sobre Artigo

Rolar para cima