Artigo: Por uma fumaça que nos faça a cabeça

Texto: professor Antônio Neves

O jamaicano Bob Marley cantava que: “Para o mundo ser perfeito, todo dia teria Sol, todo mar seria azul, toda música seria reggae e toda fumaça faria a cabeça…”

Nos últimos dias de abril até o 8 de maio passado, as cabeças de todos os verdadeiros cristãos católicos, políticos e poderosos de exércitos e nações, buscaram preencher o vazio de esperanças deixado pela morte do Papa Francisco, através da eleição de um novo papa. Esta orfandade universal se resumiu nas angústias, nos olhares e atenções do mundo para uma fumaça, aquela que saiu da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, em Roma, anunciando o “Habemus Papam”.  

O estado de abandono afetivo, o desamparo familiar e a crise de fé incondicional em Deus, têm deixado o mundo carente de um horizonte que nos faça enxergar o azul do mar, pela força da luz de um sol que nos guie para além da fumaça dissipada em nossas cabeças. Francisco era este horizonte, mas virou fumaça de Luz.

Para aqueles que insistem em anunciar a derrocada da Igreja Católica; os efeitos do papado de Francisco, sua morte e a eleição do novo papa, revelam exatamente o contrário: para o bem de todos ou de si mesma, a Igreja de São Pedro continua viva, forte e influente, basta ver as expectativas criadas pelo jornalismo mundial em torno de quem seria o novo papa e sobre qual será o futuro da Igreja em tempos tão confusos e incertos.

A Igreja Católica nos seus dois mil anos de pontificados, sobreviveu ao Império Romano, a cismas, ao Protestantismo, a monarcas, ditadores, antipapas, guerras, mudanças de costumes, a Revolução Industrial, a Guerra Fria, a internet e a crises de ordem moral e ética que, por momentos, abalaram a sua credibilidade, porém, mantem-se de pé, apoiada numa doutrina milenar, com uma estrutura de poder centralizada e orientada por credos que dialogam com a confiança na Divina Misericórdia e a ameaça do fogo do inferno, contudo, o céu continua sendo apenas uma promessa.

A promessa terrena do papa Leão XIV, eleito no dia 8 de maio, é de continuar construindo pontes, na esperança de que a Igreja seja um farol que ilumine as ‘noites escuras do mundo’; essa declaração diz muito sobre a influência que o novo papa trás em relação aos princípios e ensinamentos do Papa Francisco de quem foi próximo nos últimos anos.

Para o ex-cardeal americano Robert Francis Prevost, o agora papa Leão XIV, “a Igreja Católica deve estar identificada pela espiritualidade de seus membros e não pela grandiosidade de seus edifícios…”; na prática, o novo papa deve manter-se firme na busca pelo fortalecimento de uma Igreja mais acolhedora, aberta e articulada com as mudanças dos novos tempos, sem perder a ternura, nem o carisma do amor de Cristo.

A eleição de um Papa americano não chega a ser uma surpresa nos bastidores vaticanistas, o cardeal Prevost já era um dos cotados ao trono antes do início do Conclave que o elegeu com o nome de Leão XIV. O fato de o mesmo ter nascido americano, por si só não foi uma credencial decisiva para torná-lo papa, pois, pelo que nos parece, ele está mais inclinado aos ventos dos Andes do que ao “American Way of Life”, já que, por um bom tempo, o então cardeal foi bispo da cidade de Chiclayo, no Peru, onde conheceu bem os desafios do que é ser Igreja nos países sul-americanos, em meio as desigualdades sociais.

O encerramento de mais um Conclave, o terceiro do século XXI, e os debates e holofotes que ele atraiu, deixam para nós alguns ensinamentos que não podem ser ignorados. Num mundo de conflitos, guerras, consumismo, secularismo, individualismo e divisionismos entre povos e nações, a Igreja Católica e seus papados continuam firmes e atraindo interesses para além dos altares e palácios da estrutura pontifícia.

Se Deus está morto, como anunciou o filósofo Nietzsche, o cristianismo católico continua no centro das atenções. A figura espiritual e política do papa ainda é uma referência supra religiosa de peso, necessária e inevitável para a construção da paz mundial.

No silenciar dos sinos que anunciaram a Boa Nova, renovamos as esperanças para que o Leão saiba cuidar das ovelhas do rebanho deixado por Francisco.

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