Uma onda de especulações de cenários e outras possibilidades são discutidas e expostas na conjuntura atual para saber se Lula (atual presidente) e Bolsonaro (ex-presidente derrotado e inelegível), ainda são viáveis para governar o país a partir de 2026, ano em que ocorrerá nova eleição presidencial. Alguns argumentam, cinicamente, a questão da idade de Lula como empecilho pessoal sobre se o mesmo terá ou não condições de continuar governando a nação em caso de uma possível reeleição. Quanto a Jair Bolsonaro, inelegível e investigado por práticas de tentativas de golpe de Estado e outros crimes planejados e executados durante o período em que esteve à frente da Presidência da República, as incertezas ainda são bem maiores, porém, o que se mantém acesso nesse imbróglio de possíveis candidaturas é uma polarização intencional e inconsequente que vem adoecendo a nação.
Se o governo Lula 3 vem retomando a agenda do crescimento econômico, (apesar do terrorismo constante do mercado financeiro), e conseguindo vitórias importantes na política econômica externa, tanto quanto melhorando e ampliando os programas sociais, por outro lado, tem que enfrentar uma oposição não só bolsonarista no Congresso Nacional, mas também na grande mídia e em setores da sociedade que buscam sabotar o governo para fazê-lo sangrar politicamente e ver sua possível reeleição ir por água abaixo. Os opositores à Lula sabem o quanto é difícil derrotá-lo, principalmente se em 2026 sua aprovação estiver num patamar considerável para a disputa. Mas os grandes adversários de Lula neste momento são as demandas do seu próprio governo, uma comunicação falha que não consegue dialogar com a população, um parlamento irresponsável e corrupto e a ausência de apoio popular nas ruas.
Alardeando pelos quatro cantos que será candidato novamente, Bolsonaro, hoje principal referência dos extremos da direita ultraconservadora, insiste em se manter no foco, mesmo correndo o risco de ser preso devido as complicações jurídicas investigadas e comprovadas sobre sua liderança direta na trama golpista do 8 de janeiro de 2023. Somente um grande acordão nacional envolvendo os mais obscuros interesses econômicos e financeiros da elite capitalista nacional será capaz de colocá-lo no jogo da disputa, impunemente. Como marionete útil aos interesses do mercado especulativo, empresarial e sabotador do Brasil, ele será sempre uma persona non grata útil; até lá, o TSE e o STF terão que fazer valer a lei e a Constituição.
Porém, há um fator que envolve tanto Lula quanto Bolsonaro e os grupos partidários por eles representados na mesma condição e que se pauta numa situação política de grandes disputas internas: uma vez ambos não podendo participar das eleições como candidatos em 2026, quem seriam seus substitutos diretos com poder e liderança de vencer a disputa? Esta resposta exige muito mais do que um nome, mas reflexões sobre outras articulações a serem consideradas. A polarização Bolsonaro x Lula contribui não somente para confundir o país, tanto quanto, colabora, também, para esvaziar a possibilidade de consolidação de outros nomes políticos com capacidade de se afirmarem para os embates eleitorais em condições de disputar o cargo de presidente.
Tanto a extrema direita representada por Bolsonaro, quanto as esquerdas lulistas, preferem manter acesa, seja pelo medo ou pelo ódio, a ideia de que precisamos de um salvador da pátria (com representações simbólicas do bem contra o mal) e, para isso, entra em ação o processo de fritura de qualquer outro postulante que pense e defenda um projeto de nação democrática para o país fora dessas duas frentes. Na crise de lideranças que está estabelecida, ambos não têm ou não querem substitutos. Tal processo de fritura política é hábito comum tanto nas esquerdas (principalmente no PT) como no grupo do próprio Bolsonaro, salva-se o mecanismo que tiver mais força!
No meio dessa guerra ideológica e de poder, reporto-me ao escritor Jessé Souza, no seu livro sobre “O Pobre de Direita: A vingança dos bastardos”; quando ele nos lembra que “[…] a mentira é uma arma de guerra utilizada não só contra o inimigo de ocasião, mas com o fim de adoecer a sociedade como um todo, levando-a a um estado de guerra latente e a quebrar todos os acordos morais implícitos sobre os quais se apoia a vida social. A disputa política passa a ser pensada como um jogo de tudo ou nada, no qual só o que interessa é vencer a qualquer custo.”
Antônio Neves
Professor e historiador