Por: Antônio Neves – Professor e historiador
Nos últimos anos, as Forças Armadas brasileiras (Marinha, Exército e Aeronáutica) estão novamente em evidência no cenário político nacional. Desde 2013 quando movimentações fascistas começaram a tomar conta das ruas, disfarçadas de protestos contra a corrupção, e faixas pedindo a volta dos militares ao poder começaram a decorar tais protestos, que setores nada republicanos das Forças Armadas, principalmente do Exército, começaram a se movimentar pelo retorno das cores verde-oliva ao cenário do poder central da nação.
O apetite intervencionista das Forças Armadas para o ambiente político e governamental brasileiro não é coisa de agora, tem longa data e alguns desserviços prestados a nação. Desde a Guerra do Paraguai (1864 a 1870), conflito no qual o Exército começou a deformar seu papel de guardião da defesa e da soberania nacionais para dá passos mais ambiciosos em busca de maior controle da vida política do país, que nos foi impedido de consolidarmos uma democracia popular, republicana e participativa.
A Proclamação da República (1889), foi à porta de entrada das Forças Armadas para dá vazão aos seus propósitos de controle da nação quando um golpe orquestrado pela aristocracia cafeeira escravista e por ex-aliados do Imperador Pedro II, derrubou a Monarquia e instaurou uma república de faz-de-contas. Começava aí, a farsa republicana das Forças Armadas no longo histórico de intervenções saídas dos quarteis para a vida política e institucional da nação brasileira. Como sempre, o povo foi apenas massa de manobra e mero telespectador das estripulias de tenentes, marechais e generais com aspirações ditatoriais.
O ponto culminante da intervenção militar na vida republicana no Brasil foi o golpe civil-militar de 1964, onde a cúpula das Forças Armadas deu por longos 21 anos, exemplo de incompetência administrativa (Milagre Econômico), intolerância (censura) e autoritarismo (perseguição e torturas), diante a promessa de impedir o avanço do fantasma do “comunismo” no país. Estava montada a farsa e institucionalizada a tragédia!
Após o golpe parlamentar-midiático de 2016 que depôs a presidenta Dilma, o atual governo e seus aliados militares adota o retrocesso como política de Estado e tenta primeiro pela intimidação, depois pela ação, retomar uma agenda autoritária e entreguista, reeditando o velho discurso que tem como lema: “Deus, Pátria e Família”, discurso este, agora reforçado por fake news que ecoa do Palácio do Planalto, editado pelo gabinete do ódio e legitimado pelo presidente Bolsonaro eleito em 2018 que, convenhamos, nunca negou seu saudosismo pelos tempos autoritários da ditadura.
No momento atual, o diferencial dessa encruzilhada história se destaca pelo fato de que uma parcela alienada da população, não alheia ao que representa um regime de exceção e opressão dos direitos civis coletivos e individuais, alimentada por um ranço de ódio, por uma falsa moral cristã e uma ética degenerada, apoia e pede o retorno dos militares ao poder, porém, com características de ditadura, considerando que alguns protestos, mesmo sem adesão popular, fazem gritaria em Brasília pedindo o fechamento do Congresso e do STF. À sombra dessa falsidade ideológica ecoa a verborragia de um presidente da República que, pela falta de competência para governar, prefere acenar para o autoritarismo, como fizeram todas as mentes doentes que governaram o mundo pelo víeis fascista, agredindo as instituições e praticando crimes contra a Constituição.
Somente quem não tem a mínima consciência do desastre que foi a passagem das Forças Armadas brasileiras, principalmente o Exército, pelas redomas do poder nacional ao longo do nosso conturbado período republicano de 1889 até aqui, é que sai às ruas de verde-amarelo bradando a volta dos generais e seus prepostos ao poder.
Se sob a égide da nossa tão vilipendiada democracia ainda não conseguimos soluções para uma nação que historicamente é manipulada por interesses contrários ao seu desenvolvimento, a sua soberania e a promoção da igualdade econômica e social de seu povo, não foram, nem serão os ilustres generais cinco estrelas, com suas mentalidades atrofiadas de Guerra Fria, seus fantasmas comunistas, sua explícita carência de inteligência administrativa e de estratégia governamentais que vão conseguir nos dá tais soluções. Ao contrário, se assim fosse, ainda estaríamos vivendo em ação de graças, por via do milagre econômico, político e social que eles não conseguiram realizar entre 1964 a 1985.
Pelo bem da Nação, alguém na República precisa soprar o toque de recolher e chamar os militares de volta aos quarteis! Se a Constituição não é forte suficiente para isso, é preciso que o povo o faça!