O fenômeno é mundial. Não existe palácio sem intriga. Mas Lula revela uma propensão para o exagero ao sinalizar a intenção de converter a companheira Gleisi Hoffmann em ministra palaciana. Confirmando-se a nomeação da chefe do PT para o comando da Secretaria-Geral da Presidência, Fernando Haddad perderá o jogo da intriga pelo placar de três a zero.
Sem uma sala no Planalto, o ministro da Fazenda já lidava com a má vontade do chefe da Casa Civil Rui Costa, cuja escrivaninha fica situada a um lance de escada do gabinete presidencial. Com a entrega da Secom a Sidônio Palmeira, os planos de Haddad foram subordinados também ao filtro de um marqueteiro tão próximo de Rui Costa quanto a unha da cutícula.
Lula rendeu-se à evidência de que seu terceiro governo não produzirá um quarto mandato se não conseguiu transmitir uma simbologia nova. Não se sabe como Gleisi ajudaria na busca por novas marcas. Mas sabe-se de antemão que sua chegada elevaria o nível de entrechoque do Planalto com a equipe econômica num instante em que o governo precisa de unidade para recuperar a popularidade de Lula, que está indo a pique.
Gleisi presidiu em dezembro de 2023 o encontro em que o PT batizou de “austericídio fiscal” a política econômica de Haddad. Discursou na ocasião a favor da abertura dos cofres. Sacudiu o lençol do fantasma do impeachment. “Se cair a popularidade do presidente Lula, vocês não têm dúvida sobre o que o Congresso pode fazer”, disse Gleisi na época. “Fizeram com Dilma. Se acontecer qualquer problema, esse Congresso engole a gente”.
Alckmin não é Temer. Lula não é Dilma. E Gleisi não se parece com solução. Hoje, um Congresso bem remunerado não está interessado em derrubar o governo. Prefere aproveitar as fragilidades de Lula para faturar mais verbas orçamentárias. Num ambiente em que a inflação dos alimentos assusta 83% dos brasileiros, segundo pesquisa da Quaest, Lula atira contra o próprio pé ao negligenciar a atmosfera de fofoca palaciana contra o ministro da Fazenda.
Josias de Souza*