A fofura da Folha ao “entender” a confissão de Leite sobre não agir contra enchentes

A Folha perde o pelo, mas não perde o vício. Com Lula ela é tigrão. A culpa de tudo, até do que não ocorreu, é do presidente, mas a incompetência assumida do governador do RS é explicável.

A Folha de S.Paulo, “um jornal a serviço do Brasil”, não tem lado, não é mesmo? O que prova isso é a cobertura do jornalão de Barão de Limeira sobre as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul. Cada ida do presidente Lula (PT) ao estado era uma crítica. Cada medida anunciada, uma nova pedrada. Colocar dinheiro é um absurdo, não colocar dinheiro é um absurdo também. Lula está fazendo política. Pois.

Lula foi transformado pela Folha no primeiro caso que se tem notícia de um político eleito para fazer política, que ao anunciar uma ação política é acusado de fazer política. Nomeou Paulo Pimento, então à frente da Secom, para o cargo de autoridade federal no Rio Grande do Sul para a reconstrução da unidade federativa destroçada pelas águas da chuva. E pelas cheias, que na capital Porto Alegre, sobretudo, foram resultado de uma desavergonhada política de abandono e desleixo.

Pimenta, que é gaúcho, deputado federal há 21 anos e até então chefe de uma das pastas mais importantes do governo, na visão isenta e sóbria da Folha, não poderia ser a autoridade federal no Rio Grande do Sul. Imagina. Um absurdo total. Lula está fazendo política. Uma decisão política, de um político, ao nomear um político para fazer política é um despropósito, diz a Folha. Como é possível um negócio desses. Pimenta é do PT. Como assim? O normal seria Lula nomear, decerto, um tucano e um bolsonarista, já que tucanos e bolsonaristas sempre nomeiam petistas para seus governos, não é? Não? Ah.

Eis que Eduardo Leite (PSDB), governador do estado (e que não faz política, é apenas governador), admite numa entrevista à Folha que não tomou qualquer medida para proteger o povo gaúcho das chuvas e enchentes, pelo fato “de o estado ter outras agendas”. Para a Folha, normal, afinal, Leite não faz política. Ele não é político, no prumo da Folha. Coitado do moço, estava ocupado, ser governador não é fácil. E outra, essas coisas acontecem, né? Chove, enche tudo, aí já viu.

Quando mais de 15 mil militares, com o maior navio de guerra da América Latina, centenas de viaturas pesadas, dezenas de aeronaves da Força Aérea, ainda com o auxílio de milhares de servidores civis da PF, PRF e Força Nacional, foram deslocados para o Rio Grande do Sul, o problema era o casaco vermelho que o Pimenta usava no ato de nomeação para o cargo de autoridade no estado. Quando R$ 51 bilhões foram anunciados numa primeira etapa daquele que será o maior plano de reconstrução de um ente federativo brasileira de toda a História, com transferência direta de dinheiro para as famílias que perderam tudo, o problema é o déficit fiscal. Não é só sair gastando, tem que ter responsabilidade. Se disser que não gastará, será imediatamente atacado como omisso. Para a Folha, Lula calado já está errado e a culpa de tudo, até do que nunca aconteceu, é dele.

Vale reafirmar que nem Leite, nem a Folha, fazem política. A Folha não enverniza discretamente o morticínio de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tentar tornar o troglodita bolsonarista uma figura palatável, nem fica dando matéria dia sim, outro também, forçando a barra de que o forasteiro carioca é o nome que pode bater Lula em 2026. A Folha não faz isso. Ela não faz política, nem admite que os políticos a façam.

Mas voltando a Eduardo Leite, com ele é diferente. “O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), reconhece que estudos apontavam a possibilidade de haver uma elevação no nível das chuvas que poderia causar grandes enchentes no estado. No entanto, afirma que não investiu mais recursos na prevenção porque “o governo também vive outras agendas” e que a pauta “que se impunha era a questão fiscal”. É dessa forma que começa a entrevista que a Folha realizou com o governador gaúcho.

Só que você se engana ao achar que a Folha pegou levíssimo com o rapaz (afinal, ele não é político). Logo na primeira pergunta, os repórteres quiseram saber “como tem sido a rotina nas últimas semanas e se o governador tem conseguido dormir”. Pobre Leite, não dorme e ainda deixa a Folha preocupada com sua saúde fragilizada pelo excesso de trabalho. Sorte que é governador, se fosse político iriam dizer que era vagabundo, desacostumado a pegar no batente.

Deboches à parte, a entrevista é um passeio. Aquela virulência trucidante disparada contra Lula ao menor sinal de que o presidente levanta a cabeça acima da mureta da trincheira, essa, ninguém viu com Leite. Fofura é o termo que melhor retrata o papo descontraído com os repórteres. Nem parece que ali está o homem eleito pelo povo gaúcho para governar o estado e que admite ter falhado miseravelmente ao não fazer nada para impedir as enchentes.

No entanto, nada de novo no horizonte. O problema não está no governador assumir que deu de ombros para o maior problema do estado. O problema é o casaco vermelho do Pimenta. Deve ser o vestido da Janja. É o tom da fala de Lula na cerimônia burocrática de posse da autoridade federal. A culpa é do abraço que o presidente deu no idoso que chora, a bebezinha que ele pegou no colo. Maldito Lula que faz política.

Vejo o caso de Eduardo Leite. Ele não faz política, logo, não tem culpa algum sobre suas costas.

Revista Forum*

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