Pouco depois de o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro ser preso pela Polícia Federal na última quarta-feira (22), a mulher dele afirmou a uma pessoa, por telefone, que ele já sabia que seria alvo de uma operação. A conversa, por telefone, foi grampeada pela PF.
“Ele ‘tava’, no fundo, ele não queria acreditar, mas ele ‘tava’ sabendo. Eu falei: ‘para ter rumores do alto é porque o negócio já ‘tava’ certo’”, disse Myrian Ribeiro ao comentar a prisão. O homem que conversa com ela foi identificado somente como Edu.
Em manifestação enviada à Justiça Federal, o delegado Bruno Calandrini, responsável pela investigação, diz que a declaração “leva a crer” que o ex-ministro havia sido informado com antecedência sobre a possibilidade de uma operação.
Calandrini menciona ainda outra conversa grampeada, entre Milton Ribeiro e a filha, em que o ex-ministro diz ter recebido um alerta do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a possibilidade de a Polícia Federal abrir buscas contra ele.
“Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa”, relata. Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos na quarta-feira, 22, na Operação Acesso Pago, que chegou a prender Milton Ribeiro e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. Eles foram liberados após conseguirem habeas corpus para aguardar as investigações em liberdade.
Após a soltura de Milton Ribeiro, por ordem do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, em Brasília, Calandrini passou mensagem interna na corporação em que afirma que o ex-ministro da Educação foi tratado com “honrarias” na sede da PF em São Paulo. O delegado denunciou ter havido “interferência” em favor do ex-ministro.
O inquérito, que havia sido transferido para a Justiça Federal em Brasília depois que Milton Ribeiro deixou o cargo em março e perdeu o foro privilegiado, foi enviado de volta ao Supremo Tribunal Federal (STF) diante das suspeitas de violação de sigilo e favorecimento pessoal.
Confira o teor da conversa da mulher do ex-ministro:
Myrian Ribeiro: — Com diziam os mais antigos, “firme que nem geleia”
Homem: — Que coisa, ‘heim’. Eu vim para cá no dia [trecho ininteligível]
Myrian Ribeiro: — Na hora que ele me ligou, eu perguntei se você ‘tava’ aí e ele falou que não queria te envolver, por isso que a gente falou para você subir [trecho ininteligível].
Homem: — Viu, dona Myriam, olha só…
Myrian Ribeiro: — O Mateus te ligou?
Homem: — Ligou. Se a senhora quiser ir para Brasília, a senhora pode ir, viu, dona Miriam.
Myrian Ribeiro: — Não. Ele está detido, Edu.
Homem: — Mas não vai ficar lá.
Myrian Ribeiro: — O Mateus ‘tava’ explicando que [pausa] o advogado vai tentar um habeas corpus e talvez, se ele ficar em […] domiciliar. Aí fica em Santos, a gente [trecho ininteligível]. Ele ‘tava’, no fundo, ele não queria acreditar, mas ele tava sabendo. Eu falei: para ter rumores do alto é porque o negócio já ‘tava’ certo.
Homem: — É isso mesmo. É isso mesmo. Tudo bem, né?
Myrian Ribeiro: — Ai, meu Deus.
(Com informações do Estadão Conteúdo)