Covid-19: Bolsonaro torce para que país nunca saiba número exato de mortos

Não sabemos a quantidade de mortos produzida pelo coronavírus em território nacional e talvez nem venhamos a saber – para alívio do presidente da República.

Os 2.347 óbitos registrados até este sábado (18) são apenas um retrato atrasado e imperfeito da situação em que estamos. Se há uma fila de vítimas fatais cujas amostras esperam para serem analisadas, outras tantas nunca vão ostentar em seus atestados a causa real de suas mortes porque não houve coleta pela escassez de testes.

Pesquisadores do Observatório Covid-19 apontaram ao UOL que, na última quarta (15), quando o país registrava oficialmente 1.736 mortes, o número real estaria entre 3.800 (em uma projeção conservadora) e 15.600 (em uma mais pessimista). E o governo de Pernambuco, só para citar um exemplo fora do eixo Rio-São Paulo, ao montar uma força-tarefa para coletar sangue das pessoas mortas por problemas respiratórios, fez a letalidade dar um salto.

A situação, que traz angústia para famílias (que nunca saberão o motivo do falecimento) e desespero a gestores públicos e profissionais de saúde (que estão trabalhando às escuras para tratar pacientes e planejar o enfrentamento da crise), é um alento para Jair Bolsonaro. Pois a narrativa que tenta vender é que o grande inimigo do país não é uma pandemia assassina transmitida por contato social, mas as ações de governadores e prefeitos para reduzir a velocidade de contágio e, portanto, evitar o colapso do sistema de saúde.

Como haverá mais empregos perdidos e negócios fechados do que pessoas mortas, ele aposta na minimização da questão sanitária a fim de garantir que não comecem a lhe servir café frio antes de outubro de 2022.

Claro que seu governo apresentou com atraso e de forma insuficiente medidas para garantir alimento aos trabalhadores informais, reposição e complemento salarial aos formais e apoio a micro e pequenas empresas, mas ele convenientemente se esquece disso. Culpa apenas quarentena e não sua própria lentidão.

As hordas que realizam carreatas com buzinaços em frente a hospitais e travam a passagem de ambulâncias, pedindo o retorno à normalidade por decreto (como se o vírus respeitasse o Diário Oficial), provavelmente só se importam com mortos se eles têm seu sobrenome.

Mas a maioria racional da população consegue ponderar dados concretos na balança da vida. Se tivéssemos números de óbitos reais, dificilmente o apoio à quarentena estaria caindo (em duas semanas, foi de 76% para 68%, de acordo com o Datafolha). Por mais duro que seja o impacto econômico deste momento, é difícil ignorar o problema quando ele deixa o anonimato e ganha rosto conhecido – o instituto de sobrevivência é algo poderoso.

Bolsonaro tem pouca experiência em áreas relevantes para um presidente e não é especialista em articulação política, mas não se pode negar seu mestrado em Terceirização de Responsabilidade e o doutorado em Apropriação do Trabalho Alheio.

Conforme esta coluna adiantou no início das medidas de isolamento social, ele tentaria transferir a responsabilidade pelos impactos econômicos do isolamento social e chamar para si os frutos delas.

A quarentena em São Paulo já está causando o chamado “achatamento da curva” de contágio, ou seja, fazendo com que a pandemia se arraste por mais tempo, mas produza menos casos simultaneamente. Isso evita a superlotação de postos de saúde e hospitais, o que salva a vida não apenas dos casos graves de Covid-19, mas também de acidentados e doentes de outras moléstias – que não esperam o coronavírus passar para existir.

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