Governo Bolsonaro oferece cargos para tentar influenciar eleições para as presidências da Câmara e do Senado

Com o processo de sucessão na Câmara e no Senado a todo vapor, o governo tem feito acenos para tentar influenciar nas eleições do Legislativo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi sondado para ocupar um cargo de ministro no próximo ano, após o Supremo Tribunal Federal (STF) barrar sua reeleição. Já o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), que se coloca na disputa na outra Casa, recebeu um sinal de que também poderia ir para a Esplanada caso desista em favor de Arthur Lira (PP-AL), o preferido do presidente Jair Bolsonaro na disputa.

Algumas indicações já estão sendo efetivadas. Correligionário de Alcolumbre e favorito para receber o seu apoio na disputa, o senador Rodrigo Pacheco (MG) conseguiu emplacar na semana passada um aliado na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) por indicação de Bolsonaro. O ex-deputado estadual Arnaldo Silva Júnior trabalha no escritório de apoio de Pacheco como secretário parlamentar.

Indicação explícita
Ao ser sabatinado anteontem, Silva Júnior agradeceu ao padrinho de sua indicação cumprimentando Pacheco “de forma muito especial, pela confiança e pela indicação do meu nome”. A senadora Kátia Abreu (PP-TO) questionou a indicação.

— Eu fico sinceramente constrangida com a sua declaração de indicação de um único senador da República, que é Rodrigo Pacheco, que merece toda a nossa consideração, é um senador que tem mostrado todo o seu conhecimento jurídico, mas isso é o fim do republicanismo neste Senado. Isso nunca foi posto, um assessor do gabinete de um senador, uma indicação explícita e reconhecida para todo o Brasil. Não foi isso que Bolsonaro prometeu quando se candidatou e se elegeu a presidente da República, que ele iria, na parte política, esvaziar toda essa indicação e a captura de todos os indicadores das agências reguladoras. E eu o aplaudi por isso, embora não tenha votado nele — disse Kátia, ressaltando não ser contra indicações políticas, desde que o escolhido tenha experiência para o cargo.

Na semana passada, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi demitido depois de vir a público uma mensagem com ataques ao titular da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos — um dos trechos dizia que o Planalto estava oferecendo cargos em troca de apoio aos candidatos preferidos na disputa em curso no Congresso.

Procurado pelo GLOBO, Pacheco disse que a indicação cabe ao Ministério da Infraestrutura) e que se trata de um nome apto a exercer a função. “Seu currículo é vasto na área do Direito Administrativo”, respondeu, por meio de nota.

Silva Júnior foi aprovado na comissão por 11 votos a 2 e ainda aguarda a chancela do plenário.

Bolsonaro também indicou o advogado Paulo Roberto Vanderlei Rebello Filho, ligado ao PP, partido do centrão, para assumir a presidência da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Rebello assumiu cargo de diretor da ANS em 2018. Antes, foi chefe de gabinete do então ministro da Saúde Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo na Câmara. A sabatina de Rebello e de outros indicados estava prevista para ontem, mas foi cancelada.

Em meio às articulações políticas, o governo prevê mudanças no primeiro escalão. Alcolumbre foi sondado por integrantes do Executivo para assumir a vaga de Ramos na Secretaria de Governo. A pasta é responsável pela articulação política junto ao Congresso. De acordo com aliados de Alcolumbre, ele ainda não respondeu se aceitará ou não a proposta.

Se Alcolumbre topar, Ramos assumiria a Secretaria-Geral após a saída de Jorge Oliveira, que vai em janeiro para o Tribunal de Contas da União (TCU). Após a sondagem inicial, Alcolumbre se reuniu no Planalto com Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Na ocasião, eles também combinaram que o atual presidente do Senado iria tentar viabilizar um nome de consenso para a sua sucessão. Pacheco é seu favorito.

Outro nome que poderia ter a candidatura encampada por Alcolumbre é o senador Antonio Anastasia (PSD-MG), atual vice-presidente da Casa. Durante reunião da bancada do seu partido, anteontem, Anastasia disse que precisa conversar com Alcolumbre antes de decidir. Ele não quer entrar em uma eleição muito dividida.

Carimbo governista
Alcolumbre, por sua vez, indicou a pessoas próximas que não quer se comprometer com um possível cargo no governo para evitar uma derrota no Senado. Com o carimbo de governista, o nome apoiado por ele poderia perder votos da oposição e de independentes. Por isso, tem reforçado nos bastidores que o nome apoiado por ele será “independente” do Planalto, mas com bom trânsito.

O Planalto também planeja alterações em outras áreas no próximo ano. Conforme revelado pelo GLOBO, o governo tem colocado nas conversas com deputados a possibilidade de ceder vagas na Esplanada em troca de apoio a Arthur Lira (PP-AL) na disputa pela presidência da Câmara. O Planalto acenou ao deputado federal Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos e vice-presidente da Câmara, com a recriação do Ministério da Indústria e Comércio, pasta ocupada por ele na gestão de Michel Temer. O Republicanos conta com 31 deputados, e a migração desses votos para Lira poderia dar favoritismo ao candidato do Planalto.

Após a informação sobre o assédio circular nos bastidores, Pereira deixou o bloco do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-SP), principal articulador da candidatura contra Lira. Pereira afirmou que abandonou o bloco de Maia para se lançar como terceira via na disputa à presidência da Câmara e negou que tenha recebido oferta de cargos pelo Planalto.

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