Livro-fraude de Moro 1: Sem bomba anti-Bolsonaro; só rififi de fascistoides

Por Reinaldo Azevedo – Sergio Moro busca capturar parte do eleitorado de Jair Bolsonaro se apresentando como, vamos dizer, a direita raiz. Para os mais maduros, que têm memória, e para os estudiosos, maduros ou não, a irrupção da sua candidatura remete a Fernando Collor em 1988. Aquele caçava marajás. O ex-juiz caça corruptos. Soube-se só depois quem financiava aquele. Não se sabe quem financia este.

Admita-se: Moro pode ser amador ao discursar sobre economia e política. As mãos que balançam o berço de sua candidatura, no entanto, não são. Impressiona o exército de assessores de imprensa informais que se espalham nas redações e nas redes, devidamente alimentadas com sua agenda e com uma formidável coleção de intrigas. A julgar por aquilo que dizem e anunciam, só lhe falta mesmo conquistar os eleitores. Antes que estes soubessem de sua existência, Collor passou a merecer, em certos veículos, o tratamento de furacão eleitoral. Naquele caso, o desejo virou uma previsão confirmada. Para dar no que deu.

O mais recente golpe de marketing do ex-juiz é o lançamento do livro “Contra o Sistema de Corrupção”, escrito sabe-se lá por quem. Quem já leu uma sentença deste senhor sabe do que ele é capaz manejando a “Inculta & Bela”. Mas não é por falta de “ghost writers” que vai deixar de engrolar as suas poucas emoções e pensamentos imperfeitos. E põe “imperfeitos” nisso!

De saída, os propagandistas do livro venderam uma “fake news”. Anunciaram que o doutor lançaria uma bomba que teria a capacidade de destruir Bolsonaro. Tudo indica que o presidente da República caminha, sim, para o abismo eleitoral. Mas não por obra de uma alguma revelação feita por seu ex-auxiliar. Não há bomba nenhuma — nada que já não se soubesse e que não se tenha noticiado com muito mais acidez a seu tempo. O que Moro não conseguiu, isto sim, foi explicar por que não deixou antes o governo. Se seu objetivo era denunciar crimes ou suspeitas de crimes contra Bolsonaro, então ele foi omisso ou conivente.

POR QUE ASSUMIU?

Ah, não! O caso das ditas “rachadinhas” no gabinete de Flávio Bolsonaro quando deputado estadual no Rio não surgiu depois de Moro tomar posse no Ministério da Justiça — como se o acerto para comandar a pasta já não fosse, por si, imoral. No dia 6 de dezembro de 2018, veio a público o relatório do Coaf com movimentações atípicas de um motorista de Flávio, um certo Fabrício Queiroz. Conhecem? No dia seguinte, ficamos sabendo que havia pelo menos sete funcionários do gabinete envolvidos na lambança. Uma filha de Fabrício, também listada no relatório, havia servido no gabinete do próprio Jair Bolsonaro.

Por que Moro, o incorruptível, aceitou o cargo ainda assim? No livro, ele revela: achou boas as explicações do seu futuro chefe, e este teria prometido não intervir nas investigações. É mesmo? No dia 18 de janeiro de 2019, relatório do Coaf apontava 48 depósitos em dinheiro na conta de Flávio, num total de R$ 96 mil, feitos em cinco datas, no período de um mês. Mas Moro, sabem como é, foi ficando. E desfilava alegremente como o homem forte de Bolsonaro e seu grande xerife.

Em julho de 2019, o STF suspendeu investigações originadas de compartilhamento de dados do Coaf e da Receita Federal sem a devida autorização judicial. Decisão foi revista depois. O pedido fora apresentado pela defesa de Flávio. Moro diz que foi reclamar com Bolsonaro e ouviu: “Se não vai ajudar, então não atrapalhe”.

Saiu no governo? Claro que não!

E que se note, hein? A qualquer pessoa razoável não escapa que sua suposta queixa ao presidente, se de fato aconteceu, era mesmo um despropósito. Afinal, o que ele queria? Que a defesa do senador não tivesse recorrido ao que era, afinal, um ato processual legítimo? Ademais, a decisão era do Judiciário. Pretendia que Bolsonaro dissesse, então, como deveriam votar os ministros?

A propósito: no dia 26 de maio de 2019, ocorreu a primeira manifestação de rua de caráter golpista, que já tinha como alvos o Congresso e o Supremo. Moro disputava com Bolsonaro a preferência dos fascistoides, com seu nome e seu rosto estampados em faixas e cartazes. E ele jamais reclamou.

PACOTE ANTICRIME

O livro também traz seu chororô por causa do pacote anticrime. De fato, o texto sancionado pelo presidente foi o elaborado por uma comissão da Câmara, não o seu, excluía aberrações como “excludente de ilicitude” — licença para matar pretos e pobres — e criava o juiz de garantias, sobre o qual Luiz Fux está sentado desde janeiro de 2020. Bolsonaro decidiu aplicar vetos, alguns derrubados depois, mas não aqueles que Moro queria — que eram precisamente a parte boa do texto.

Se alguém tem alguma dúvida sobre a natureza essencialmente reacionária da postulação do ex-juiz, a defesa que faz de sua proposta elimina qualquer especulação. Na madrugada de 26 de dezembro de 2019, escrevi aqui um artigo sobre a decisão de Bolsonaro.

No seu texto lamentoso, o agora pré-candidato do Podemos afirma que deveria ter deixado o governo naquele momento. E por que, então, não deixou?

Ah, movido que é a bons propósitos — claro! — disse ter ficado porque seu chefe intentava interferir na Polícia Federal e caberia a ele, Moro, impedir. É do balacobaco!

Não há revelação nenhuma contra Bolsonaro. O livro é só mais uma peça da sua já bem azeitada campanha eleitoral. Quem está pagando essa agitação toda? O Podemos?

É bem verdade que ninguém sabe as condições em que Moro foi parar na Alvarez & Marsal, empresa então encarregada da recuperação judicial da Odebrecht, que a Lava Jato quebrou. O doutor pode dizer que isso é assunto de sua vida privada, mas não é.

Dado que seu emprego foi uma espécie de recompensa profissional por sua atuação como funcionário público — como juiz e como ministro da Justiça —, ele prestaria um serviço à transparência se informasse a seus admiradores quanto ganhou para entrar e para sair da empresa americana.

Muito serviço não tinha, certo? Já estava planejando a campanha eleitoral, de que o livro é parte.

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