O pré-candidato do Psol à presidência da República, deputado federal pelo Rio de Janeiro Glauber Braga, concedeu entrevista exclusiva ao AGORA RN, onde expõe eixos de sua pré-candidatura, fala da dependência dos países ao sistema financeiro internacional e comenta sobre atuação dos governos estaduais e federal durante o período mais crítico da pandemia. Glauber disse que tem carinho especial pelo RN, terra natal de sua mãe.
AGORA RN – O senhor lançou a Carta “Unidade na esquerda”. Lançando-se candidato, não dividiria a esquerda, já que o PT lançou Lula?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – Nossa Carta é um chamado para formação de esquerda que possa fazer um enfrentamento a Bolsonaro. Agora, não pode mos querer disputar as estruturas que hoje dão sustentação ao governo Bolsonaro, uma Direita liberal que se fantasia de Centro, mas forma bloco com Extrema-direita para aprovar agenda de desmonte como as privatizações da Petrobras, dos Correios, a autonomia do Banco Central, reformas como Previdência, Trabalhista. Derrotá-lo é fundamental, derrotar as estruturas que dão sustentação ao bolsonarismo também é imprescindível. O que defendemos é uma candidatura de esquerda com programa de esquerda e estabeleça uma unidade na esquerda.
AGORA RN – O senhor não acha que o Congresso vai perder um grande parlamentar?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – Na nossa avaliação, a candidatura presidencial dá a possibilidade da formação de várias outras candidaturas que tenham o mesmo compromisso, com o fortalecimento de forças de Esquerda. O pessoal apresentando seu candidato vai exatamente contribuir para que outros possam cumprir este papel, porque é uma presença fundamental do ponto de vista do cenário político brasileiro o debate eleitoral para o executivo federal, e onde as pessoas voltam muito as suas atenções para aquilo que os candidatos vão dizer, com isso, gera-se uma maior projeção para parlamentares que são a base de apoio do programa desta pré-candidatura.
AGORA RN – Estamos ainda em um momento pandêmico. Qual sua avaliação dos governos, sobretudo do RN com a governadora Fátima Bezerra (PT), no enfrentamento ao coronavírus.
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – Em vários momentos, uma parte dos governadores, imagino que no RN não tenha sido diferente, teve que brigar contra o governo federal para garantir a vacinação da população e que medidas de prevenção fossem adotadas. A negação estabelecida por este governo (Bolsonaro) é total. O fato dele ser hoje um dos presidentes que não se vacinou, e declaradamente faz propaganda disso, é a demonstração da forma de como ele toca esta questão, sem contar de todo o atraso no processo de vacinação, se tivesse agido rápido poderia ser que milhares de vida pudessem ser salvas. Processo de testagem, planejamento, organização quem deveria ter conduzido tudo isso em uma situação com esta era a presidência da República. Infelizmente, no nosso caso nem de perto aconteceu. Não é à toa que nós afirmamos que ele trabalhou sim com uma política de morte.
AGORA RN – O senhor sempre fala em segurança alimentar. Como vai tratar este assunto?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA– Umas das propostas que apresentamos é ter restaurantes populares em todos os municípios brasileiros, e ampliando as unidades a partir do tamanho da população atendida. Mas, não é o suficiente, precisamos garantir a renda básica para as famílias brasileiras, que, com o desmantelamento do auxílio emergencial, ficarão em situação de extrema dificuldade. O projeto que eu tenho é o Pleno Emprego – o estado como empregador de última instância, uma discussão que tem sido realizada no Brasil e no mundo. Nós não defendemos a renda emergencial como os liberais, que falam que vão defender o direito das pessoas, mas, ao mesmo tempo, desmontam as garantias sociais como saúde, educação. Na nossa avaliação, precisa ter um trabalho que seja consistente no sentido de garantir ofertas de alimentos, de renda para as famílias, e além disso, não dá para falar em segurança alimentar sem mudar o modelo de produção de alimentos, e de utilização de terras no Brasil. Aqui, o que vemos é uma prioridade ao agronegócio para exportar, isto deixa de favorecer, prestigiar e garantir uma maior ampliação de apoio à agricultura familiar e agroecologia. Essa modificação também é fundamental para garantir alimento para todas as famílias, garantir que as pessoas não fiquem reféns destas circunstâncias dramáticas, onde 116 milhões de pessoas no Brasil estão passando por insegurança alimentar, e dessas 20 milhões de pessoas com fome.
AGORA RN – Além de derrotar Bolsonaro, quais são os outros principais eixos, principais programas de governo?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – O principal ponto é derrotar o Bolsonaro. Temos que fazer o diálogo com outras forças de Esquerda, não permitindo o diálogo com movimentos de Direita fantasiados de Centro. Fizemos uma Carta Manifesto com quatro eixos: 1º eixo – enfrentamento ao rentismo e ao neoliberalismo, como por exemplo a necessidade da estatização do sistema financeiro e o projeto de pleno emprego; 2 º eixo – enfrentamento a concentração de terra e a política predatória do meio ambiente. Uma reforma agrária e urbana para valer; 3º eixo – A necessidade de defender o serviço público com políticas reais de inclusão e garantia de direitos, como o super-SUS, reverter a lógica atual do orçamento para Educação, e fazendo um enfrentamento às corporações privadas que muitas vezes tem uma articulação de natureza internacional e que ganham enorme lucratividade como aconteceu, por exemplo, no setor privado no período de pandemia; e 4º eixo – garantia de direitos civis fundamentais, como planos nacionais de enfrentamento ao racismo estrutural, à LGBTfobia ao machismo e ao capacitismo.
AGORA RN – Como fazer o Brasil se livrar da dependência do mercado financeiro internacional?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – Não é uma tarefa fácil, propomos a estatização com controle popular do sistema financeiro, mas temos a consciência que isso vai sofrer um conjunto de boicotes. Por isso, a necessidade de um processo de preparação, articulação e mobilização popular. Agora, se formos avaliar o que está acontecendo no mundo, já existe o exemplo da China, onde o sistema financeiro e as operações bancárias têm altíssimo controle estatal, evidentemente, não é o único exemplo, mas é um exemplo importante de reação ao que é esta imposição neoliberal onde todos os países ficam dependentes do rentismo. Isto só consegue se fazer se operar, romper com aquilo que é a representação da escravização do sistema financeiro internacional se tivermos um povo mobilizado e entendendo os passos que estão sendo dado pelo governo.
AGORA RN – Como o senhor avalia a ida de Bolsonaro para o PL?
DEPUTADO FEDERAL GLAUBER BRAGA – Ele sempre foi um político do Centrão com práticas que, na verdade, é a junção da Direita com Extrema-direita. Só acreditava no discurso de enfrentamento à corrupção quem não o conhecia. Quem é do Rio sabe das relações que ele tem com milícias, com o que há de pior na política. Foi filiado ao PP e a prática de uso do mandato para benefício pessoal faz parte da sua história nefasta.
Agora RN*
