Após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, a base do presidente Jair Bolsonaro ficou menor e ainda mais isolada no Twitter. É o que aponta um levantamento da Diretoria de Análises de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (DAPP/FGV), que analisou mais de 2,85 milhões de postagens sobre o tema na rede social, entre 11h e 18h de sexta-feira, período que compreendeu tanto o pronunciamento do ministro quanto do presidente. Os dados apontam que a base fiel a Bolsonaro mobilizou apenas 9,5% desse volume.
O Twitter é considerado o território no qual bolsonaristas travam suas disputas e é usado pelos próprios aliados de Bolsonaro para medir a popularidade das decisões do presidente. O levantamento indica que, pela primeira vez, houve ataques a Bolsonaro no grupo à direita que tradicionalmente dá sustentação ao governo. Das postagens desse núcleo, 26% foram críticas ao presidente, acusado de se render à velha política e de traição contra o titular da Justiça. Cerca de 74% das publicações foram contrárias a Moro, com acusações, por exemplo, de insubordinação e de que o ministro “abandonou o barco”.
A maior parte dos tuítes sobre a saída de Moro (70%) partiu do grupo classificado pela DAPP/FGV como de oposição, que reúne perfis de vários espectros políticos e que repudiou a saída do ministro. O engajamento desse grupo foi maior ontem que no início de abril, quando somou 60%, durante a mobilização pela permanência do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, demitido no último dia 16. Ainda segundo a DAPP/FGV, 3,5% das postagens foram de grupos à direita, antes alinhados ao governo Bolsonaro, que lamentaram a saída de Moro. As demais publicações não tiveram alinhamento político.
Diretor da DAPP/FGV, Marco Aurelio Ruediger avalia que a base do governo Bolsonaro no Twitter está se “desmanchando”, apesar de a maior parte dela ter continuado a apoiar o presidente.
— Bolsonaro tem perdido espaço na rede e a saída de Moro pode custar mais um pedaço dessa base. A base que apoia o governo Bolsonaro está se desmanchando — diz o diretor da DAPP/FGV. – A saída de Moro fortalece a oposição a Bolsonaro. O centro pode achar o Moro uma alternativa interessante amanhã.
Nos dois primeiros lugares do debate, aparecem as hashtags em defesa de Moro #bolsonarotraidor e #forabolsonaro, em aproximadamente 44,8 mil e 27,4 mil postagens, respectivamente. Já a hashtag mais usada por apoiadores de Bolsonaro foi #tchauquerido, em 23,7 mil postagens, emterceiro lugar do debate.
Um levantamento amostral da consultoria Arquimedes feito após o pronunciamento de Moro e antes da fala de Bolsonaro também aponta alta proporção de mensagens contra Bolsonaro na rede social ontem. Os dados apontam que, entre as menções ao presidente no Twitter, 82% foram negativas e 18% positivas. Já em relação ao ex-ministro da Justiça, 88% das citações foram positivas e apenas 12% negativas.
O GLOBO