Apesar de a taxa de desemprego ter caído para 9,8% no trimestre encerrado em maio, o que representa o menor índice para o mês desde 2015, e o número de pessoas ocupadas ser recorde no Brasil, o rendimento médio real do trabalhador foi de R$ 2.613, 7,2% menor do que o registrado no mesmo trimestre de 2021 (R$ 2.817).
“Essa queda do rendimento no anual é puxada, inclusive, por segmentos da ocupação formais, como o setor público e o empregador. Até mesmo dentre os trabalhadores formalizados há um processo de retração”, observa Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostra de domicílios do IBGE.
Segundo a pesquisadora, isso pode ser efeito da própria inflação, mas também da estrutura de rendimento atual dos trabalhadores, com um peso maior de trabalhadores com rendimentos menores.
A massa de rendimento real habitual (R$ 249,8 bilhões) cresceu 3,2% frente ao trimestre anterior e avançou 3% na comparação anual, mas segue distante do pico pré-pandemia, quando somou R$ 262,6 bilhões.
Outros destaques
O índice de desemprego cai puxado pela alta no número de trabalhadores com carteira assinada, mas também pelos trabalhadores informais.
O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exclusive trabalhadores domésticos) foi de 35,6 milhões, subindo 2,8% (981 mil pessoas) frente ao trimestre anterior e 12,1% (mais 3,8 milhões de pessoas) na comparação anual.
A taxa de informalidade ficou em 40,1% da população ocupada (ou 39,1 milhões de trabalhadores informais), contra 40,2% no trimestre anterior e 39,5% no mesmo trimestre de 2021.
O número de empregados sem carteira assinada no setor privado (12,8 milhões de pessoas) foi o maior da série. Este contingente cresceu 4,3% em relação ao trimestre anterior (mais 523 mil pessoas) e 23,6% (2,4 milhões de pessoas) no ano.
O número de trabalhadores por conta própria (25,7 milhões de pessoas) manteve-se estável ante o trimestre anterior, mas subiu 6,4% (mais 1,5 milhão de pessoas) no ano.
Mais números
- População subutilizada foi estimada em 25,4 milhões, queda de 6,8% (menos 1,8 milhões) frente ao trimestre anterior; taxa composta de subutilização ficou em 21,8%
número de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas se manteve em 6,6 milhões de pessoas; - População desalentada, que desistiu de procurar trabalho, somou 4,3 milhões, com queda de 8% em relação ao trimestre anterior (menos 377 mil pessoas) e 22,6% (menos 1,3 milhão de pessoas) na comparação anual
Carteira assinada perde espaço
O emprego com carteira assinada tem perdido protagonismo e espaço no mercado de trabalho brasileiro. A participação desta modalidade no total da população ocupada no setor privado ficou em 38,1% no 1º trimestre de 2022 e segue bem distante do pico de 43% alcançado em 2014.
Segundo levantamento da LCA Consultores, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, o número de trabalhadores com carteira assinada diminuiu em 2,8 milhões entre 2014 e 2022, enquanto que o de trabalhadores por conta própria ou sem registro em carteira aumentou em 6,3 milhões em 8 anos.
Em números absolutos, o contingente atual de trabalhadores com carteira assinada no 1º trimestre de 2022 totalizou 36,3 milhões, contra 39,1 milhões no 1º trimestre de 2014.
O cálculo considera a soma dos trabalhadores do setor privado no regime CLT e domésticos com carteira assinada, sem incluir trabalhadores do setor público, que emprega 11,2 milhões, o correspondente a uma fatia de 11,8% dos ocupados.
Mesmo com o aumento do número de brasileiros com emprego formal nos últimos meses, o percentual dos ocupados com carteira assinada permanece abaixo do patamar pré-pandemia (38,7%).
“É um movimento de precarização do mercado de trabalho mesmo”, resume Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, autor do levantamento.
Em 8 anos, a categoria que mais ganhou participação no mercado de trabalho foi a de trabalhadores por conta própria, que saltou de 22,5% para 26,5% do total de ocupados, seguida pelo emprego sem carteira assinada, que passou de 11,6% para 12,8%. Juntas, as duas modalidades representam 39,3% do total de brasileiros com trabalho, mais do que o contingente com carteira assinada, totalizando 37,5 milhões.