A taxação de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre a importação de produtos brasileiros é uma decisão política e não econômica. A avaliação é do presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), Roberto Serquiz. “Não há justificativa econômica para as sanções. Estamos diante de uma medida com forte viés político e efeitos muito sérios para a indústria”, afirmou.
Segundo ele, ao menos cinco setores do Rio Grande do Norte estão na berlinda: pescado, sal, fruticultura, petróleo e confeitos, incluindo balas, caramelos e bolachas. Juntos, esses segmentos movimentaram US$ 47 milhões em exportações entre janeiro e junho deste ano e empregam diretamente cerca de 21 mil pessoas. No caso do pescado, o impacto é imediato. O atum, principal produto do setor, tem 100% da sua produção exportada para os Estados Unidos. Apenas no primeiro semestre, foram US$ 13 milhões em embarques, com expectativa de aumento no segundo semestre, quando ocorre o pico da safra. “Há embarcações retornando e contratos em risco. A instabilidade já é perceptível”, disse.
O sal, outro item sensível, registrou US$ 3,5 milhões em exportações no semestre, com embarques mensais de até 40 mil toneladas para os EUA e 4.500 empregos diretos no Estado. A fruticultura também sente os efeitos da tensão: foram US$ 2,6 milhões exportados e 9 mil postos de trabalho em jogo, em um setor cuja safra mais forte começa em agosto. Já o petróleo, que tem mercado global mais diversificado, passou de US$ 4 milhões exportados no primeiro semestre de 2024 para US$ 24 milhões no mesmo período de 2025, com cerca de 5 mil empregos envolvidos. Produtos de confeitaria somaram US$ 4,1 milhões e empregam 1.300 pessoas.
Apesar da abrangência, Serquiz explicou que nem todos os empregos estão diretamente ameaçados, já que há mercado interno. Mas parte expressiva desses postos pode ser impactada se a barreira comercial não for revista. A Fiern, junto à Confederação Nacional da Indústria, solicitou que o Governo Federal faça gestão junto aos EUA em prol de um adiamento de 90 dias na aplicação da medida, para que haja negociações diplomáticas. Segundo os EUA, por enquanto a tarifa entra em vigor em 1º de agosto.
A Fiern avalia que o Brasil tem mais a perder nesse confronto. “Estamos falando da maior economia do mundo, do segundo maior importador do nosso país, e do maior investidor estrangeiro aqui. O caminho não é o confronto. É o diálogo, com moderação”, disse. Para ele, o momento exige disposição para o consenso. “Enquanto os dois lados endurecem discursos, os prejuízos recaem sobre quem está produzindo.”