Uma paraibana de João Pessoa está desaparecida na Ucrânia. Desde o dia 27 de fevereiro, quando fez sua última postagem em seu perfil no Instagram, ninguém sabe do paradeiro de Silvana Pilipenko, casada com o engenheiro naval ucraniano Vasili Pilipenko, com quem tem um filho, Gabriel, 26 anos, que segue os passos profissionais do pai. Uma semana antes de estourar a guerra, ela e o marido decidiram ficar em Mariupol, já que a sogra estava bastante doente e necessitava de cuidados especiais.
Ontem o filho recebeu a notícia de que o prédio onde os pais e a avó estavam fora bombardeado. Mas não tem informações se houve mortes. Ele estava embarcado na Alemanha, pediu licença do trabalho e viajou para a Polônia.
Silvana, quando jovem, foi passar uma temporada em São Paulo e lá conheceu Vasili, com quem se casou e foi morar na Ucrânia. Como ele passa meses embarcado, Silvana se divide entre Mariupol e João Pessoa durante o ano. No dia 26 de fevereiro, Silvana fez uma postagem em seu perfil no Instagram:
“A guerra tem várias facetas e uma delas é a fome e a sede.
Hoje saímos para comprar alimentos e a maioria dos supermercados estava fechada, os poucos abertos estavam com escassez de produtos. Eu havia feito uma lista, que nem foi seguida, tão pouco concluída. Conseguimos comprar algumas poucas coisas, e também 4 botijões de água com gás. Nós estamos economizando tudo o que temos, porque não sabemos até quando essa situação se estenderá.
No supermercado as pessoas se entreolham, e se ocasionalmente se tocam, há uma solidariedade silenciosa. Há um respeito recíproco, há um entendimento simultâneo; há um bater de coração diferente, um cuidado manso e delicado. A parte linda da guerra é ver o amor aparecer, ainda que acanhado.
Alguns olharam para mim, como a se perguntar: o que faz aqui uma estrangeira? Eu gostaria de responder: – Aprendendo, como você.
A cidade está calada, as pessoas caminham com passos decisivos e apressados, o frio continua. A noite chega, já é a terceira, e antes de adormecer tenho a certeza que falarei com Deus e lhe pedirei que não permita sermos atingidos, que essas paredes suportem, que esse teto de concreto não caia sobre nós, e, se cair, o Senhor nos salvará conforme a sua linda misericórdia.
Oro por todas as pessoas ucranianas, inclusive os soldados, muitos ainda imaturos para viverem uma guerra de verdade; oro pelas crianças inocentes que nada compreendem, mas choram sem saber do porquê; oro pelos idosos, que mereciam viver essa fase da vida com dignidade e calmaria; oro pela paz entre essas nações, onde as armas sejam abaixadas, as mãos estendidas e apertadas entre si.
Oro por muitas coisas e sei que Deus está a inclinar os Seus ouvidos em nossa direção, porque Ele cuida daqueles que o ama e é essa a minha certeza para seguir adiante sem questionar a fé.”
No dia seguinte, a última postagem antes do desaparecimento:
“Não sabes, não ouviste que o Eterno, Yahweh, o SENHOR, o Criador de toda a terra, não se cansa nem fica exausto? Sua sabedoria é insondável, seu conhecimento incompreensível.
Faz forte ao cansado e multiplica o vigor dos que estão fatigados!
(Isaías, 40:28,29)”.
Gisa Veiga – Jampa News