Aos 19 anos de idade, Beatriz* voltou ao Casemi Santa Catarina, em Natal, onde cumpriu sete meses de medida socioeducativa de semiliberdade, para receber o prêmio de melhor redação do Rio Grande do Norte do 5º concurso realizado pela Defensoria Pública da União. A jovem concorreu na categoria 3, direcionada ao sistema socioeducativo e o tema abordado nesta edição foi “Defender direitos, evitar desastres: como o acesso à Justiça contribui para o desenvolvimento sustentável”.
A premiação incluiu uma medalha de honra ao mérito e um tablet entregues para a estudante na segunda-feira (9), com presença da gerente da unidade, Sivonete Abreu, e do presidente da Fundase/RN, Herculano Campos, que parabenizou a todos do Centro de Atendimento Socioeducativo – Casemi Santa Catarina pelo trabalho desenvolvido. Os Casemi são unidades de atendimento ao socioeducando sentenciado para o cumprimento de medida de semiliberdade.
O Concurso de Redação é direcionado ao Ensino Fundamental e Médio, incluídos os alunos da modalidade Jovens e Adultos (EJA) e aqueles em cumprimento de medida socioeducativa de internação ou em situação de privação de liberdade. Além dos alunos, também podem participar internos do Sistema Penitenciário Federal e os servidores do sistema socioeducativo e penitenciário de todo o país.
Inscrita em 2019 com a redação “Desenvolvimento sustentável: utopia ou realidade?”, a socioeducanda cumpriu medida de semiliberdade até o dia 29 de outubro. A responsável pela inscrição foi a assistente social Elisângela Feitosa, idealizadora do projeto que teve como resultado a biblioteca da unidade.
“A adolescente é muito dedicada aos estudos. Sempre gostou de pegar livros e fez algumas doações também. Participou ativamente das oficinas quando estávamos preparando o espaço e motivava as outras meninas”, conta a assistente social.
Beatriz vive com pai, madrasta e quatro irmãos e é aluna do curso técnico de Geologia e Mineração no Instituto Federal do Rio Grande do Norte. A assessoria de comunicação da Fundase/RN conversou com a adolescente. Confira:
– Como tomou a decisão de inscrever sua redação?
A equipe insistiu que eu fizesse a redação. Eu comecei a achar que a redação seria mesmo muito importante não só pra mim, mas também para elas. E foi aí que eu comecei a pesquisar bem a fundo o tema e fui desenvolvendo. A questão ambiental é um problema nosso, de todo mundo. Os professores do IF também me ajudaram.
– Você gosta de escrever?
Eu gosto de escrever, mas geralmente tenho preguiça. Na Redação do IF fui bem, tirei 92.
– Quais são suas perspectivas para o futuro?
Vou terminar o curso técnico do IF no próximo ano e penso em entrar na faculdade. Ainda estou um pouco confusa, porque eu gosto de muitas coisas, de conhecer coisas novas, e ainda não resolvi minha área. Eu ainda tenho um tempo pra decidir isso, eu acho que vou descobrir em um futuro breve.
– Você participa de atividades extracurriculares no IFRN?
Sim, fui monitora do laboratório, fiz teatro e futsal.
– Como foi sua passagem pelo sistema socioeducativo?
Olha, não foi tão difícil. Aqui elas procuram estar sempre junto, sempre conversando. Elas acreditam muito em mim. Não só em mim, em todas que passam por aqui. Elas veem algo a mais na gente, não nos olham só como pessoas que cometeram um ato infracional, elas nos veem como adolescentes normais. Não foi ruim. Foi uma experiência válida.
– E isso fez você crescer de alguma forma?
Com certeza. Eu pensei que quando eu começasse a cumprir a medida ia ser tudo muito difícil, que eu teria que mais uma vez me erguer sozinha. Mas pelo contrário. Eu não me senti sozinha e não precisei me esforçar pra me manter no caminho certo.