A máxima de que “a política se define em jantares” e não em plenário deu o tom na noite desta terça-feira (20) em Brasília, quando Antônio Rueda, presidente do União Brasil, recebeu em sua mansão na capital federal um amplo leque de personagens políticos que definiram os rumos da direita “tradicional” para a disputa contra Lula em 2026 e retomaram as rédeas surrupiadas pela ascensão da ultradireita radical no Brasil.
Após a oficialização da Federação que une União Brasil e PP, Rueda e Ciro Nogueira (PP-PI), que copreside o bloco, receberam presidentes de partidos da centro-direita e direita, governadores do espectro político e ungiram Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como principal aposta para chegar ao segundo turno em 2026 e tentar impedir o quarto mandato de Lula.
Nenhum representante da família Bolsonaro foi convidado. Em prisão domiciliar, Jair Bolsonaro (PL) teria que recusar o convite por motivos óbvios. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que conspira nos EUA, idem. Carlos Bolsonaro (PL-RJ), que chamou governadores “aliados” de “ratos”, tampouco. No entanto, nem sequer Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos mais diplomáticos no mundo político compareceu.
Assim, o convescote convocado por Rueda e Nogueira jogou definitivamente o clã Bolsonaro na lata de lixo da política. A discussão agora se dá apenas em como garantir os necessários votos da ultradireita bolsonarista para que Tarcísio chegue competitivo em 2026. A estratégia será ressuscitar, por meio da mídia liberal, o velho discurso contra Lula e o PT.
A manobra capitaneada por Rueda e Ciro Nogueira deixou o clã Bolsonaro sem reação. Na manhã desta quarta-feira (20), quando o assunto já pautava os debates na direita, nenhum dos filhos ousou ir às redes criticar. Até mesmo Carlos, que classificou Tarcísio e os governadores “presidenciáveis” como “ratos” dizendo que “querem apenas herdar o espólio de Bolsonaro, se encostando nele de forma vergonhosa e patética”, se calou. Seja por medo da reprimenda ou isolamento total da família.
Jantar
Com 109 deputados, a maior bancada da Câmara, 15 senadores, 1,3 mil prefeitos e, agora, o maior quinhão do fundo partidário, de R$ 197,6 milhões, e eleitoral, de R$ 953,8 milhões (R$ 67 milhões que o PL), em números de 2024, Ciro Nogueira e Antônio Rueda agora cortejam o panorama mais fisiológico da política nacional, resgatando figuras seduzidas pelo clã Bolsonaro – e que se afastaram após o ex-presidente se tornar inservível e indesejado.
Valdemar da Costa Neto, que ofereceu o PL a Bolsonaro em 2022, esteve presente. E era a figura mais próxima do clã atualmente.
O flerte de Nogueira e Rueda se deu, primeiramente, sobre o Republicanos, partido de Tarcísio e Hugo Motta (Republicanos-PB), que é comandado por Marcos Pereira (PL), braço político de Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).
Pereira se afastou de Bolsonaro ainda em 2022, após ser preterido na campanha, e bate de frente com Silas Malafaia, guru do ex-presidente, que controla parte da base evangélica.
O flerte, no entanto, ainda não seduziu o Republicanos, que busca ser protagonista nas negociações em 2026 já que conta com o ungido Tarcísio.
Em seu discurso, o governador paulista, que é católico mas virou habitué em cultos evangélicos empreendedores – como a Lagoinha Alphaville, onde esteve na noite anterior – e frequentador das rodadas da Faria Lima, pregou união da direita e do Centrão “por um País melhor”. Ignorou Bolsonaro e foi aplaudido.
Costa Neto, que foi o único que citou rapidamente o ex-presidente – “o pior não é só ficar preso em casa, é ficar sem isso” -, fez coro ao deixar o evento.
“Vai estar todo mundo unido (direita) unido no ano que vem. Ninguém quer perder eleição e nós não estamos enfrentando um cidadão inexperiente”, disse sobre Lula.
Após a devastação feita pelo clã Bolsonaro na popularidade de Tarcísio e outras figuras ligadas a ele devido ao tarifaço de Donald Trump, o clima no jantar era menos otimista em relação a 2026. E por isso a aposta no discurso de “união”, inclusive com a mídia liberal e a Faria Lima.
“Não tenha dúvida de que esse grupo de pessoas que estava aqui, que é o mais importante, estará, no mínimo, no segundo turno”, declarou Ciro Nogueira, em recuo das declarações dadas há meses, quando dizia que Lula estaria derrotado.
Participaram ainda do jantar, os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal; Eduardo Riedel (que deixou o PSDB e se filiou ao PP), de Mato Grosso do Sul; e Mauro Mendes (União), Mato Grosso.
A Fórum apurou ainda que o prefeito paulistano, Ricardo Nunes (MDB), também esteve no jantar, e até mesmo o eterno presidenciável Ciro Gomes, recém filiado ao PSDB, que prometeu atrair a “centro-esquerda” para a articulação contra Lula, que retira do limbo e coloca em nova roupagem o lado mais fisiológico da política brasileira.
Revista fórum*