A Semana Santa é um dos períodos mais importantes para os cristãos católicos, que celebram os sete dias que antecedem a Páscoa. Nesse período, são recordados os momentos da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, no Domingo de Ramos; a Última Ceia, na Quinta-feira Santa; a crucificação, na Sexta-feira Santa, e a ressurreição, no Domingo de Páscoa.
O chanceler da cúria metropolitana de Natal e pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Candelária, padre Francisco de Assis Barbosa, explica que o Tríduo Pascal, ou seja, o período de tempo que vai da tarde de quinta-feira Santa até a manhã do Domingo de Páscoa, é o “ponto de culminância da fé cristã”, e que para chegar a esse momento, é preciso uma preparação: a Quaresma.
Quaresma
“A Semana Santa é precedida da Quaresma. Há quarenta dias para uma reflexão, para um acompanhamento das nossas atitudes como cristãos, uma repaginação da nossa vida, e o que é mais importante de saber: que a gente vai poder plantar sementes e colher frutos. A gente vai aprender a fazer isso na Páscoa”, afirma.
“Por isso que a Quaresma dá essas quarenta oportunidades de a gente ficar mais sintonizado ao mistério de Deus, devido àquilo que nos pede o evangelho, trabalhando aquilo que não faz muito bem em nossa vida, retirando do coração e fazendo uma varredura. E nesses quarenta dias, há de dar tempo para a gente chegar na Páscoa com a perspectiva boa de que seja realmente essa passagem, que seja também ressuscitar com Cristo”, completa Francisco de Assis.
Ele afirma que o período quaresmal é iniciado na Quarta-feira de Cinzas e deve ser encerrado na Quinta-feira Santa. Nesse período, os fiéis costumam fazer penitências, como forma de demonstrar arrependimento por pecados cometidos. No entanto, o padre destaca que é preciso ser firme no propósito e lembrar que os cristãos deveriam viver em constante penitência.
“Há toda uma situação que envolve essa história da Quaresma. As pessoas passam a Quaresma todinha com propósito, elas fazem as penitências, mas elas querem saber quando o começa e quando termina. Na realidade, a gente deveria viver em eterna penitência. Afinal de contas, o pecado não dorme. A graça está aí para nos socorrer, mas o pecado também está aí na frente, em uma corrida bem acelerada”, diz.
“Do ponto de vista particular, eu falando, padre Assis, penitência é penitência, independentemente dos dias, das horas. (…) O propósito há de ser com firmeza para que realmente você obtenha as graças de Deus. (…) Mas aí as pessoas começam, às vezes, a banalizar os propósitos que fazem na Quaresma. Por exemplo, a gente tira refrigerante, mas não coloca marca, então eu só vou deixar de tomar uma qualidade, mas eu posso tomar as outras. Quando faço uma penitência, faço realmente uma penitência completa, e ela vai ser boa para quem está fazendo, porque ela realmente é um repensar sobre a qualidade do testemunho, sobre o cristão que queremos ser, e testemunhar a mão de Deus”, concluiu.
Domingo de Ramos
O pároco explica que o Domingo de Ramos é o “portal da Semana Santa”, por onde é iniciada a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. “É no Domingo de Ramos que a gente fecha os encontros da Campanha da Fraternidade [ação anual da Igreja Católica no Brasil que mobiliza os fiéis para a caridade e a solidariedade] e a coleta da Campanha da Fraternidade, e o que é mais importante é a gente saber que no Domingo de Ramos a gente inicia esse tempo rico mais perto da graça de Deus, que são os Dias Maiores – como antigamente se dizia -, os Dias Santos”.
A Procissão de Ramos é dividida em dois momentos, explica o padre. O primeiro é a entrada de Jesus em Jerusalém. “As palmas são substituídas pelos ramos, pelas vestes que são colocadas no chão para que Jesus pudesse entrar como o Rei. Ele é o rei da glória, como rezam nos salmos que cantamos nesse dia”.
O segundo momento é a leitura narrativa da Paixão. “Paixão, morte e ressurreição de Jesus, todo aquele trajeto de Jesus desde a entrega Pilatos, a Herodes, e aí Jesus vai fazendo um fechamento do projeto do Pai – ele que é o fiel cumpridor dessas promessas do Pai, que é levar até às últimas consequências aquilo que se constitui o ápice de toda nossa vida cristã, que é a salvação, que é a vida eterna”, diz.
Quinta-feira Santa
No início do Tríduo Pascal, também há dois momentos importantes, como detalha o padre: a bênção dos Santos Óleos e a celebração da Ceia do Senhor. Na missa dos Santos Óleos, são abençoados os óleos do Batismo, da Crisma e da Unção dos Enfermos, que são usados nas celebrações, nos sacramentos e nas ordenações. Já a celebração da Ceia do Senhor lembra a primeira missa de Cristo. “Um momento com os seus discípulos, onde institui a Santa Eucaristia”, pontua Francisco de Assis.
“E aí a gente todo em contexto nessa liturgia. Ela é a liturgia mais longa do tríduo começa na quinta-feira, onde a gente traça o sinal da cruz e a gente só vai fazer essa conclusão com a Vigília Pascal, com Domingo da Ressurreição – que de acordo com o contexto em que vivemos, com a insegurança, com uma série de fatores, as celebrações não mais acontecem à meia noite, mas tem toda uma situação também teológica que envolve esses dias ricos da liturgia da Igreja”, completa.
De acordo com o pároco, a Ceia do Senhor é um momento importante de exaltação e instituição da Santa Eucaristia e, dentro dessa celebração, há rito do lava-pés, que, como o nome sugere, é um ritual de lavagem dos pés que lembra o ato realizado por Jesus aos discípulos na noite anterior à sua morte.
“Um gesto de serviço, de entrega, de doação, e, como diz o próprio texto: façam a mesma coisa que eu fiz. Ou seja, somos convidados a reproduzir em nós, e para as outras pessoas, os gestos e as atitudes de Jesus, que se resume no primeiro evangelho que a gente conhece. Que não é Mateus, Lucas, Marcos e João, mas é o evangelho do acolhimento. Jesus era o homem do acolhimento, ele é do acolhimento, e nos convida que façamos a mesma coisa”, ressalta.
“Ele não se prendeu a estar ligado simplesmente a isso ou aquilo outro, a grupo A, a grupo B; mas ele esteve todo o seu ministério na rua, na escuta, às margens dos rios, com os pescadores, com as pessoas que mais precisavam do perdão, e, é claro, de serem reintegradas à sociedade, aos direitos e também aos deveres. Então, essa Missa da Ceia, essa entrega total, essa celebração exalta e institui a Santa Eucaristia, tem essa conotação, essa riqueza na liturgia, que vai nos preparando para a liturgia da Paixão, da sexta-feira”, conclui Francisco de Assis, que explica, ainda que, ao fim da missa, é, então, iniciada uma vigília.
Sexta-feira da Paixão
Na sexta não há missa, ressalta o padre, pois ela foi iniciada na quinta, e ocorre a narrativa da Paixão. “O sacerdote entra silenciosamente com aqueles que vão servir na liturgia. Há uma prostração como sinal também de entrega, de que somos pó, e para o pó um dia voltaremos. E depois, quando a Liturgia da Palavra começa. Em seguida, a gente tem a Oração Universal e também Adoração da Cruz”.
No momento da adoração, ocorre um recolhimento de donativos, que, de acordo com o pároco, é voltado para manter abertos os lugares santos na Terra Santa [formada por partes da Israel, da Cisjordânia e da Jordânia]. “Então, nós somos essa chave também pela manutenção dos lugares, para que, na visitação, as pessoas conheçam o trajeto, a vida, toda a história de Jesus Cristo, nosso Senhor”.
O pároco afirma que, na Sexta-feira Santa o altar fica “desnudado” e a Igreja fecha as portas para a preparação para a Vigília Pascal, que “é uma celebração que tem toda a história do povo de Deus”, desde a criação até a ressurreição de Jesus Cristo.
Sábado de Aleluia
Para os cristãos, o Sábado é um dia de alegria, sendo o último que antecede a maior celebração daqueles que seguem os ensinamentos e doutrinas deixados por Jesus Cristo. Nesse dia, é realizada a Bênção do Fogo Novo e a Bênção da Água Batismal.
A Bênção do Fogo Novo é um ritual que simboliza a luz de Jesus, que ilumina as trevas do mundo. A partir desse fogo é aceso Círio Pascal, que representa Jesus Cristo ressuscitado da morte. Já a Bênção da Água batismal é voltada para a renovação das promessas batismais, tendo a água como sinal de vida nova. Essa água será usada para aspergir os fiéis e para administrar o Batismo.
“Temos o nosso compromisso batismal, a nossa missão – que no batismo recebemos -, e a aspersão do povo, com a Nova Água, o Fogo Novo que ilumina. E a celebração tem seu seguimento nessa alegria de que, com Cristo, nós também ressuscitamos. Então, o sábado fecha esse Tríduo Pascal, essa centralidade da nossa fé”, diz o padre.
Ele lembra, ainda, as tradições do Sábado de Aleluia, as quais afirma que hoje são vistas com mais frequência apenas em cidades do interior. “Tem muita coisa no interior, do Sábado de Aleluia, a história de roubar galinha, essas coisas todas. São brincadeiras, como por exemplo, de malhar o Judas, um boneco que se amarrava em algum canto para simbolizar uma espécie não de vingança, mas de fazer o que Judas merecia, por exemplo: uma ‘boa surra’, para aprender a respeitar, a ser um discípulo interessante no grupo de Jesus”, diz.
Entretanto, o Francisco de Assis ressalta que esses costumes não são apoiados pela Igreja. “Não são coisas assim abraçadas, encaminhadas, louvadas pela Igreja. A gente não quer nunca que isso aconteça para prejudicar os outros”, explica.
Domingo de Páscoa
“O domingo já é dia do Senhor, e o domingo de Páscoa é mais celebrativo ainda, mais especial”, diz o padre. E é por esse marco que é vivido todo o período quaresmal. “Por isso que a Quaresma é esse tempo, como a gente viu, lá no primeiro dia que é a quarta-feira de Cinzas, quando o profeta Joel pede que a gente rasgue o coração e não as vestes, ou seja, o que os olhos não veem, o coração vai sentir, porque a boca fala daquilo que o que coração está cheio. Então, ele quer que a gente trabalhe tudo isso para algo bem maior, que é a Páscoa”.
O pároco afirma que toda a teologia que circunda as celebrações de Páscoa confere uma mística muito envolvente. “A gente se sente realmente abraçado por Jesus, por ser uma vida nova, uma nova oportunidade que ele está nos concedendo repaginar, reorganizar, faz uma varredura em nossa vida e viver realmente a Páscoa”.
Ele frisa que esse momento de passagem inicia uma nova fase, que são os cinquenta dias até Pentecostes, cuja celebração é pela renovação da força do Espírito Santo recebida no dia do batismo. “A gente vai ter de cinquenta dias até o Pentecostes para também trabalhar o que a gente não conseguiu resolver na Quaresma. Dá tempo, ainda na Páscoa, de você reorganizar a sua vida e ser uma criatura nova, ser um homem novo, ser uma mulher nova”, finaliza.
Diário do RN*