A farsa da ivermectina está cantada em verso e prosa na história de Natal, com suas taxas de casos e óbitos acima do RN e do Brasil. O modo como essa fake news invadiu corações e mentes já ganhou dossiês na Revista Nature, Jama e outros periódicos acadêmicos. A maneira como as pessoas que acreditaram nisso hospitalizaram e morreram mais do que quem não foi por aí está já devidamente comprovada por estudos no Brasil e lá fora. Porém, parece que não foi suficiente.
Agora há dois lados também para a vacinação em crianças em Natal. Parte da imprensa local pegou gosto pela necropolítica. De um lado, a Anvisa, a autoridade sanitária do país, sociedades médicas e científicas, agências de saúde do restante do mundo e a organização mundial de saúde. Ainda deste lado, o fato de que cerca de 60 milhões de doses já foram aplicadas em crianças de 5 a 11 anos com zero óbito e nenhum efeito adverso grave, enquanto que o Brasil é o segundo país do mundo em mortes de crianças.
Do outro, assim como na ivermectina que protegia e curava, há médicos locais, lunáticos de microfone na mão e muita informação falsa. Evidências? No máximo, falas do tipo – “olhá, eu não vi no meu consultório casos graves de covid em crianças. Logo, eu não recomendaria”.
Ontem (27) morreu um jovem em Currais Novos que aderiu ao lado dois. Dele tenho pena. Foi assassinado pela ignorância devidamente manipualda por quem deseja manter o absurdo como rotina, a partir de interesses que não são assim tão difíceis de decifrar. Dos articuladores da tragédia, apenas a mais racional conclusão de que estamos diante de pessoas capazes de tudo.
Com a cereja do bolo de sangue – na hora em que a imunização começar, os engenheiros do caos correrão para as filas de vacinação enquanto que os coitados sem a mesma condição de avaliar evidências padecerão em suas casas. Foi assim no início da vacinação anterior e será agora. Isto com a posterior tentativa de reescrever o que foi feito no verão passado, claro.
O Potiguar*