Por que você fala sem entender nada do Governo Fátima Bezerra?

Por William Robson*

Tem uma trave no seu olho. Você não consegue enxergar. Mesmo assim, consegue levantar pontos de vista cabais sobre algo que desconhece. Aliás, entre tantas informações que deságuam em suas redes sociais, na confusão de vozes, você não é capaz de promover a sua própria curadoria a respeito deste assunto. Mesmo assim, sente-se capaz a analisar, com propriedade, este um ano e oito meses do Governo Fátima.

Qualquer pessoa com capacidade de absorver mais que memes, tem consciência de que a governadora Fátima Bezerra pegou o Estado do RN em situação de total caos. Olhe que não costumo recorrer a hipérboles. O caos é a expressão mais apropriada quando a governadora deu de cara com as contas, salários em atraso e rombo na Previdência. Sabia que o desafio colocado era bem (mas,  bem) maior que imaginava.

O objetivo maior do início de mandato era buscar atualizar as quatro folhas de pagamento, entre salários e décime-terceiro, deixadas pelo antecessor, o governador Robinson Faria. Havia a pressão dos sindicatos, todos com razão, mas Fátima havia assumido o Governo, não achado uma botija. A pressão e a insatisfação das categorias começaram a impressionantes nove dias de mandato.

As contas estavam em colapso, herança de R$ 2,6 bilhões em débitos. Naquele momento, os servidores apresentaram documento com cinco reivindicações. Vamos lembrar: que fosse pago imediatamente o restante do 13º salário de 2017 dos servidores aposentados e pensionistas, montante que era de R$ 40 milhões, segundo o documento. Também sugeriram que no dia 14 de janeiro de 2019 fosse concluído o pagamento dos salários de novembro de 2018 e iniciado o pagamento do 13º de 2018 para quem ganha até R$ 4 mil.  O pagamento do 13º de 2018 deveria ser concluído até o fim de janeiro e que o pagamento dos aposentados e pensionistas ocorresse na mesma data dos servidores ativos.

Na época, escrevi um artigo em que dizia que se Fátima conseguisse cumprir todas estas reivindicações em tão pouco tempo, recomendei entregar a varinha de condão para outros governadores em quadro tão desfavorável quanto o do RN.

Foi assim que Fátima pegou o Estado e a revolta  dos servidores, com a corda no pescoço e o nó dado por Robinson. Mas, o nó que parecia cego, aos poucos, foi desatando. Fátima vem buscando manter o pagamento dos salários do mês trabalhado, enquanto quita os atrasados. O secretário estadual de Planejamento e das Finanças, Aldemir Freire, disse que este tem sido o maior dos sacrifícios, mas que é otimista e que, com a pandemia e baixa arrecadação,  o Governo mantém este ritmo de continuar pagando o salário dos servidores dentro do mês. Reconhece que não vai dar para pagar as duas folhas remanescentes das quatro que estavam em atraso, desde o governo anterior, este ano. “O nosso compromisso e desafio agora é cumprir as 13 folhas salariais de 2020”, garantiu.

Neste ano, outro agravante: a reforma da Previdência. A necessidade da reforma é compulsória e com data adiada para que seja apreciada sob pena de contenção de recursos da União. No embate que uniu parlamentares da oposição e servidores, ninguém negava que a  governadora estivesse em situação delicada, porque sabia que precisaria garantir a reforma após sucessivos saques dos governos anteriores que devastaram o fundo previdenciário e do déficit mensal que chega aos R$ 140 milhões.

A governadora fez, inclusive, a defesa de sua proposta. Não porque ela desejasse simplesmente que a reforma seja concretizada, mas porque era determinação imposta a Estados e Municípios que administram suas pensões e por que implicaria na adoção do regime previdenciário do Governo Federal. Isso quer dizer que as consequências seriam bem piores.

Fátima enfrentou o imprevisível: a pandemia de coronavírus. Isso não consta no orçamento de nenhum governo. Imagine a dívida, os atrasos, o rombo na Previdência e, então, surge este momento terrível. Era preciso priorizar as vidas. A governadora disse que enfrentaria o problema e não importaria se custasse o seu mandato, mesmo com adversários como o garoto-propaganda da cloroquina, Jair Bolsonaro, os prefeitos Álvaro Dias e Rosalba Ciarlini, empresários gananciosos, a ivermectina e os túneis placebo. Vale ressaltar que o Governo foi vítima do calote dos respiradores, comprados em caráter de emergência, diante da quantidade de potiguares mortos que cresciam. O Ministério Público, que deveria acusar, isentou o Governo pela transação mal-sucedida. O procurador Thiago Martins Guterrez afirmou que não houve má fé da  Secretaria de Saúde para a compra dos respiradores, dada a urgência que a situação exigia. Apesar disso, Fátima conseguiu obter o melhor resultado no combate à pandemia.

O RN apresentou nesta segunda-feira (31) queda de 25% na media móvel de mortes por Covid-19. E este nível, segundo a Agência Saiba Mais, colocou o Estado em 3º lugar entre os que registraram maior redução de óbitos no Nordeste. Na região, seis dos nove estados estão com status de queda e os outros três estão em estabilidade. Ficou abaixo de Sergipe, com queda de 40%, e do Ceará, que alcançou a primeira posição, com redução média 47% dos óbitos.  Chegou a desativar os leitos Covid do Hospital Tarcísio Maia, transferindo as unidades para atendimento a pacientes com outras patologias.

Você sabe como está a segurança no RN? Talvez, você gostaria que fosse o mundo ideal, como no cenário de capas das revistas das Testemunhas de Jeová. Porém, a situação é de nítida redução da criminalidade, mesmo ainda em níveis preocupantes. Os dados da Secretaria de Segurança Pública, avaliando o primeiro semestre deste ano, apontam registros de 14.182 crimes diversos, contra 20.061 no mesmo período do ano passado. Uma queda de 29,3%.

Especificamente, os detalhes são estes. Os furtos caíram 45,7%, roubos 20,4%. ataques contra instituições financeiras apresentaram redução de 51,7%., assaltos a ônibus com queda de 47,4%. furtos e roubos de veículos caíram  1,22%. Os índices de homicídios, por sua vez, ainda estão elevados, em torno de 807.

E para finalizar, nesta terça-feira (1), Fátima encaminhou à Assembleia Legislativa o Projeto de Lei que institui a eleição direta para reitores e reitoras, acabando com a chamada “lista tríplice” na Universidade do Estado do RN (UERN), avanço histórico para a instituição, e que será o primeiro passo para a sua autonomia financeira, sonho antigo de todos de lá.

Quando você tira a trave do olho e resolve conhecer detalhes do governo Fátima, percebe que os desafios seguem, o RN não se transformou na Suíça. Porém, reconhecer as pequenas conquistas em um Estado até então abandonado, significa que você pode ir além dos memes, do antipetismo, do preconceito e compreender que nem tudo está tão ruim assim.

*William Robson é jornalista graduado pela UERN e doutor em jornalismo pela UFSC.

Do Blog do Barreto*

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