O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte Geraldo Ferreira Filho foi desmoralizado após assinar uma nota em nome de todos os médicos do Estado defendendo o uso da hidroxicloroquina no tratamento precoce de Covid-19. No mesmo comunicado do Sinmed, o anestesiologista afirma ser contrário ao lockdown e a favor do isolamento social apenas para o chamado grupo de risco, o inclui idosos e pacientes com alguma comorbidade.
Em entrevista ao portal AgoraRN em abril de 2019, Ferreira Filho admitiu candidatura à prefeitura de Natal em 2020:
– Medidas como lockdown só servem para encobrir a incapacidade gerencial da administração pública em abrir leitos ou UTIs que vinham sendo ostensivamente fechados e contribuiram para o estado atual que sugere o sistema como lotado”, diz um trecho da nota, política, assinada pelo presidente do Sinmed.
No dia seguinte ao comunicado divulgado pelo Sindicato, o médico infectologista Alexandre Motta gravou um vídeo rebatendo cada um dos argumentos usados por Ferreira Filho, que afirmou inclusive que o Estado falava em colapso mesmo tendo 280 pacientes internados e 7.200 leitos disponíveis.
Motta trabalha na linha de frente no combate a Covid-19, atua no hospital Giselda Trigueiro e usou a ciência para afirmar que não se deve tirar a esperança de nenhum paciente. No entanto, lembrou que não existe eficácia comprovada no uso desse medicamento nos tratamentos. Não há diferença na sobrevida de quem usa nem de quem não usa. O infectadologista chegou a chamar de “desumana” a proposta do presidente do Sindmed:
– Quem defende o tratamento defende para que as pessoas saírem do isolamento e retomar suas atividades normais. Quando elas fazem isso elas se contaminam e contaminam outras pessoas. Isso é desumano porque a contaminação significa mais gente precisando de UTI e, obviamente, mais pessoas morrendo”, disse.
Veja o vídeo completo abaixo:
Além do colega infectologista, Geraldo Ferreira Filho recebeu mais críticas da Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia no Rio Grande do Norte. Em nota, a entidade formada por profissionais do Estado repudiou as informações publicadas pelo Sindmed/RN e disse que o conteúdo daquele comunicado não representa o conjunto de médicos e médicas do Rio Grande do Norte.
Leia a nota na íntegra:
A Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia do RN no que se refere à Nota publicada pelo Sindicato dos Médicos do RN, Sinmed em 14 de maio de 2020, tem as seguintes considerações a fazer:
- O referido Sindicato extrapolou a sua função natural de órgão reivindicativo, invadindo área específica de uma Sociedade de Especialidade, no que se refere ao tratamento da Covid-19, a de Infectologia. O Sindicato de forma anômala propõe o protocolo terapêutico para uma doença grave sem possuir autoridade ou prerrogativa para tal;
- O Sinmed também extrapolou os limites legais da atividade sindical assumindo o papel reservado à autoridade sanitária, que está previsto em lei e é exclusivo do Poder Público, o que poderá (a) levar pessoas à automedicação com substância capaz de provocar efeitos colaterais graves e (b) produzir desrespeito ao Isolamento Social por falsa sensação de segurança numa terapêutica que não conta com protocolo oficial;
- O Sinmed faltou com a verdade em relação à questão da disponibilidade de leitos hospitalares, inclusive de Terapia Intensiva, que estão (a) sendo regulados de forma transparente e pública e (b) por haver Chamada Pública pela Secretaria de Estado da Saúde Pública aberta para a contratação de mais leitos para a Covid-19;
- O Sinmed também faltou com a verdade ao relatar que o Estado recebeu milhões para a testagem, quando o Ministério da Saúde tem enviado Kits para teste rápido destinados apenas a populações específicas: profissionais de saúde, de segurança publica, idosos e seus contactantes e não à testagem em massa, como alegou
- A proposição de protocolo terapêutico por entidade não habilitada para tanto além dos demais fatos citados, é flagrante desrespeito aos profissionais médicos já mortos, no RN e no Brasil e à comunidade em geral para com quem a responsabilidade profissional do médico não é opcional, mas obrigatória;
- Lamenta a citação de que “a administração pública usa o pânico”, reverberando os ataques de alguns setores da imprensa local, sobre as previsões iniciais de estudos de simulação do comportamento da curva epidêmica, e do número de óbitos, caso não ocorresse a adesão desejada ao isolamento social. Na realidade, a Sesap/RN seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, do Ministério da Saúde e de várias instituições científicas nacionais (Fiocruz) e internacionais (London College e John Hopkins), manteve informada a sua população sobre a pandemia, através de uma comunicação de risco e da necessidade de seu envolvimento nesse enfrentamento;
- Por fim, constata que o presidente do Sinmed, candidato na última eleição, parece pretender com a nota, que extrapola as funções sindicais e põe em risco a sociedade, ganhar notoriedade político-eleitoral em momento de grave epidemia, quando defende medidas sem evidências e nega ações recomendadas pela OMS. Com essa Nota, estranha às finalidades da instituição que dirige, auferiu uma visibilidade pessoal sem conexão sindical, que pode se justificar por possível finalidade eleitoral;
Nestes termos, a ABMMD-RN repudia com veemência a referida Nota do Sinmed, assinalando à comunidade norte-rio-grandense que seu conteúdo não representa o conjunto dos médicos do nosso Estado.
Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia-RN
Natal 17/05/2020
Fonte: saibamais.com